quinta-feira, 15 de setembro de 2011

JOAN MIRÓ ( personajes ritimicos, personajes sentados, personajes sobre fondo rojo, wikcionario )


A lua assomou sobre o Edifício Flamboyant
como se fosse um chapéu
sobre a mole
um adorno feminil
compondo-se com os cabelos negros
de uma mulher bela
- na cabeça da beleza da noite
em noturno pianíssimo
( A noite é a segunda beleza
depois da mulher
ambas carregando no ventre
a pura poesia
do eterno feminino de Goethe )

A lua cheia
banhada no amarelo ouro
- o plenilúnio
pairando sobre a terra despojada do filão das minas gerais
- filão de ouro e ferro e trem-de-ferro
e ferrete e sais minerais
e outros minérios e minerais de ferro e ferrugem
ferruginosos
óxido de ferro
- tudo assente na terra e no dente do gentílico /
pois a terra tinha tantas minas com filão
que cabia na boca e dentes das gentes
animava o sorriso áureo do garimpeiro
- do mineiro matuto
do tabaréu e da tabaroa
bem como no nome de Minas Gerais /
- atual estado de alguns eleitos para tal empresa
porquanto estado no Brasil ainda significa feudo
na prática práxis axial do vocábulo
ou não o que diz o vocábulo
mas o que manda dizer
o dono da voz e vez
porque aqui ainda funciona o moinho medievo
É genético
não tem muda
está no vegetal do homem
entranhado no sistema nervoso vegetativo
- tudo transitando transido de medo
entre a casa Grande e a Senzala
que este é o Brasil social perene
lido e escrito em genes
( está no genoma )

Portanto, mineiro, pegue a bateia
e vem atrás das minas gerais
ser mineiro
- vem ser mineiro!
conquanto cônscio
de que os governos
sempre roubam o quinto do ouro
a história antiga sendo reescrita perenemente
por sobre o pergaminho ou papiro ou papel
da história das minas nos quintos dos infernos
quando mandava El Rey de Portugal e Algarve
Hoje continuam a levar do povo
até o "quinto dos infernos!"
se pudesse existir alguma fração matemática
para designar o imaginário inferno de Dante
um poeta que entrou no inferno em busca da bem-amada
assim como já o fizera Orfeu
inveterado lírico cantor
cheio de candor no amor
- galo cantor
na zoologia enquanto instância da ciência
e da zoomorfia ou antropozoomorfia
enquanto deus
na pele de Anúbis
que ilustra bem o antropozoomorfismo
que poesia um deus no mundo
- pois poetizar um deus no mundo
é o mesmo que postar
- postá-lo nas aras e no saltares
e no livro dos mortos
- que sempre é o livro dos poetas!

A onomástica da terra veio pelo veio das mimas
então gerais demais
- então minas gerais
nome originário do veio da terra
porquanto o que nomeia a terra
diz da etnia e do povo da terra
e dos andarilhos e arrivistas
que vieram tomar o território aos indígenas
com grandes bandeiras e espadachins
cuja destreza leva a mão a escrever
a história da vitória de Samotrácia
- que a história é sempre do vencedor
que a escreve sobre o pó e com o sangue dos mortos
aos olhos vermelhos dos demônios
a espichar o rabo
até a cauda do fauno
abarcando vida e morte
o preto no branco
o dia na noite
o xadrez no tabuleiro

Somente com os passar do pó dos séculos /
depois que o tempo vira pó de madeira nativa /
( o tempo é a parte móvel do espaço ) /
sai dos alfarrábios para os olhos dos sábios /
desenhado com o dedo na poeira local
da vida que foi alfa um dia
cintilou em alfa do centauro
para a vida que é agora
quando o espaço empurrar um outro pedaço de espaço /
que se desloca paulatinamente /
formando o tempo
ou o conceito do tempo
ou a intuição do tempo
conforme o tempo seja o temo real
dado no mover do espaço
ou o espaço filosófico de Kant-Shopenhauer
que é um sentido interno no homem
Dessa espécie de erosão espacial /
que se passa na mente ou em natureza
nasce o tempo /
que é movimento de parte do espaço /
movido a torque de algum motor /
que se moveu primeiro /
depois do motor originário /
( o motor de Aristóteles )
- motor, portanto, que se moveu segundo /
( e não primeiro, mas segundos antes /
segundo os Evangelhos e os escritos no Tanakh e Corão /
e em tudo que é santo e sábio livro ) /
- motor movido a trilhões de anos após o movimento originário /
cujo movimento ocorreu antes das estrelas /
das cefeidas e anãs brancas /
azuis amarelas vermelhas castanhas
- antes da eclosão do universo /
antes do segundo motor /
escrito no espaço /
descrito no tempo /
- motor descritor
lido prensado nos alfarrábios dos rabinos
( Ao ler o alfarrábios /
os eruditos inteligentes provam apenas o sabor dos signos nos significados /
enquanto eruditos simplórios se enterram sob sete palmos de signos
mortos com os mortos
despidos do contexto de alma e tumba )
Os sábios, entretanto, provam diferente do vulgo ignaro /
parvo parcial parco e patético /
pois detectam pelo gosto /
a história em pó nos alfarrábios /
(onde os mortos vivem em signos e micróbios
conjuminados com ácaros traças carunchos... ) /
e a relação que mantêm com a história escrita no alfarrábio lido /
é tal qual como se fosse o ato de degustar a fruta do pequi /
fresca e viva no sabor amarelo de outro ouro da vida /
numa curva que alonga o amarelo das abelhas /
- amarelo em mel e listas rajadas no abdômen /
que prova o gosto originário da terra /
em seu amarelecer para outono /
transformando o sabor nativo da terra /
em sapiência /
gosto da terra /
e do ser humano sobre a terra /
na história que a terra escreve nas frutas /
nas abelhas e nas flores /
e no homem ali nativo /
irmão dos vegetais e dos animais /
filho da terra e d água que erodiu a terra /
juntou o arenito e fez o ser humano /
ao gosto da laranja da terra
- o ser humano cuja história primeva
foi escrita em seu corpo com geóglifos
antes dos escribas por em sânscrito
hebraico grego e latim
- o homem em hieróglifos
posteriormente em demóticos
e por fim nas línguas alfabéticas
- grego e latim
que o homem moderno
desde a história das línguas
que narram e pensam as histórias dos homens
das línguas alfabéticas
está descrito e pensado e grego e latim ) /

Sobre o flamboyant /
( "Delorix regia" no latim invulgar ) /
flor-do-paraíso e pau-rosa /
na voz corrente do vulgo /
dispensada suposta malícia das brasas do pau-brasil /
no pau-rosa que não evoca a rosa em cor e flor /
nem a candura da acácia rubra /
na cor da face em carmim da moça dente-de-leite /
ou do varão no dente-de-leão /
- erva daninha bravia pelos caminhos silvestres /
aonde não anda pedestre ou quaisquer transeuntes /
que não os silvícolas de antanho /
tempos em flor para a palavra fulô /
desabrochar o "logos" da flor ) /

Sobre a mole do Edifício Flamboyant /
a lua tal qual uma chapéu de palha pintado no amarelo da lua pia /
adorna a cabeça do enorme prédio /
como se fora o sorriso do gato de Alice /
arrastada lá do País das Maravilhas /
para o lugar onde a clareza dos montes é só metáfora /
ou cuja toponímia é um exônimo para designar lugar em Portugal
que em Portugal afiançam alguns
existiam uns montes
que designavam de claros
- Montes Claros

No mês quadriculado por quadrilhas de junho de Santo Antônio /
onde abundam quadrilhas e fogueiras e fogos de artifício /
e fogo-fátuos e bandeirolas a ataviar os espaços no tempo /
de São João e São Pedro /
que ainda andam mansos e santos na sua mansuetude /
pelo meio do povo simplório em suas manifestações /
- do povo das Minas Gerais /
na santa terra prometida em filão de Minas Gerais /
para onde peregrinou um arameu errante /
que veio de longe e de antes /
- muito antes que o tempo formasse o pó /
que é o espaço de hoje do corpo /
entre imaginários montes
vislumbrados no horizonte
( ou seja, longe!
de uma longura idílica
como o amor romântico
e o barco no rio
com o pescador
descendo pelos cachos dos cabelos da cachoeira cantante
- cantarolante )
da terra abençoada com pequi no pequizeiro
onde sobe o homem da poeira ao rés-do-chão
para formar o corpo humano do nativo
com a energia de fogo do sol
que coze o homem
e assim torna esse ser
mera cerâmica industrializada pela natureza
onde sobeja o pequi cozido com arroz
- sápido e amarelo-pequi em nuance
matiz por um triz!
planta e fruta que dialoga com a língua anatômica e fisiológica
sobre o gosto da terra
e narra estórias vegetais
e também diz do "logos" geológico da terra
à sombra do vale entre as montanhas de Minas
- minas sempre gerais pelos campos gerais /
que miram a serra do espinhaço /
e os arbustos floridos de roxo /
na beleza plena do ipê roxo /
que circula quedo e mudo /
como se fosse uma baiana rodando a saia /
na escola de samba /
Acadêmicos do Salgueiro /
estação Primeira de Mangueira /
ou num Império Serrano com anum
mais extenso que o romano /
ao menos na parábola-palavra do aedo /
sem medo de arremedo
ou do anum negro que firma a casa da noite

Subindo para os morrinhos /
ao pé do morro /
sonhando com o Santo Graal /
vi a lua assomar com face amarela
entre o Edifício Flamboyant e Deus /
A lua interposta entre Deus e a mole do Edifício
- vi-a na vida antes de codificar o ato de olhar palor de luar /
em noite na qual pensava na mulher /
que Joan Miró concebera numa obra de arte pictórica /

Em uma noite em que pintara Joan Miró
a mulher que amo!
arrancada em raiz herbácea do surreal
- aquela que somente vive em segredo e degredo de alma
dentro de mim
escondida do mundo
arredia na ermida do rocio
ou antes do orvalho fazer catedral
templo para corpo humano
onde os cavaleiros negros do apocalipse galopam
mas não chegam nunca
porque lá o espaço fica
entre a lua falciforme negra
e o espaço guardado pelo anjo do senhor
- anjo de mau a pior
de anjo a demônio
cavalgando um corcel amarelo
- cor do trigo da fome no Apocalipse /
dos quatro cavaleiros andantes /
arrostando moinhos de vento e moleiros moles /
cuja armadura é a mole do edifício Flamboyant
onde uma pá de moinho roda /
pelo toque das mãos do vento /
que move moinhos
( ventos são partes do espaço /
que se quebraram do todo espacial /
e se transformaram em porção móvel /
- quinhão denominado de tempo /
pois tempo é espaço móvel /
ou parcela do espaço estagnado /
que se partiu e se tornou espaço em movimento )

A lua que eu olhava era circular /
ovalada ou elíptica como sói dizer o físico /
para por o "logos" no jargão da física /
que quantifica a luz na constante de Planck /
( Quão em quanta se mensurou o espectro da luz do corpo negro! /
após a catástrofe do ultravioleta /
naquele momento em tese! /
não do momento, mas da tese /
na equação literal pela borda da álgebra!... ) /

Entrementes cismava eu com a mulher nada imaginária /
( e toda imaginação! )
furtada por uma água-furtada de autoria de Joan Miró /
que do ( quedo?) quadro do artista célebre /
fugisse amazona sobre um alazão ou égua abstrata
para dentro da noite escura nada abstrata
- noite acolhedora em trevas a vestir a mulher negra na noite /
trajá-la com vestes talares nigérrimas /
àquela deusa originária da água da placenta /
que um dia ou em outra noite /
desidratada cairá no pó da terra /
como pó de terra /
anjo decaído /
ser humano morto /
no retorno ao húmus /
na volta ao ventre da terra /
excetuada a mulher que Miró pintou /
imortal na tela mental /
protegido de bactérias carunhos e ácaros /
pelo tempo que tem no abstrato /
o anjo da guarda como relicário /
depositário fiel dos tesouros da inteligência /
encontradiços no museu do Ancião dos Dias /
( A vida goteja na decrepitude )

Pensava eu na mulher dentro da noite /
quando olhei a lua a banhar de amarelo-sertão a mole do edifício /
e a poesia aqui e ali plasmada nasceu em minha alma /
naquele e neste momento
( nunca é neste o momento!
- o tempo nunca é no tempo
pois o presente é fugidio
e tem mais tempo na lembrança
do que no momento-minuto
ou na hora do cuco sair alardeando no relógio suíço )
- momento ainda em idéia a caminhar
caminheira na estrada
- caminhão!
a cavaleiro negro da mole do edifício /
( cavaleiro negro laçado no apocalipse! )
antes de vir parar à cova aqui cavada nestes versos mortos nesta escrita /
ao descrever a mulher pintada pelo artista catalão /
que a pôs em tese na tela /
( redundância no vernáculo para designar lugar ) /
dentro da noite em obra pictórica /
sobrando nas sombras da noite /
nos meandros da alma /
e fora do espírito que olha /
a noite tingir o dia de trevas bastas /
em cabeleiras compridas /
ocultando a face feminina da noite /
sob um véu negro de cabelos longos /
- a mulher polifônica
minha em poesia e de Joan Miró em tela
escrita e desenhada
pintada na surrealidade
pela paleta do artista
e os signos e símbolos do vate
a cantarolar uma barcarola ou uma berceuse
par um riacho rolar seixos
e a criança amada pelo líquido do sangue
que enlaça os mares do corpo humano
( Amor está na corrente sanguínea! )

Todavia eu ia encontrar-me com outra mulher /
que nem era mulher ainda /
porém apenas ( se isso tudo é apenas ou tão-somente ou uma nonada ) /
- tão-só uma menina-moça de quatorze anos /
tão só!
- e tão só quanto a minha solidão
máxime em Robinson Crusoé em solitude na ilha /
que é o homem e a mulher em corpo humano
e corpo de ilha respectivamente
( corpo de ilha é terra
igual corpo de homem )

Ah! solidão e solitude!...
similar à solidão e solitude
que feria a menina
dentro da qual
havia um mar vermelho
que corria para o amor
- que amor é sangue
está no sangue!
- mar vivo
contraposto ao mar morto
à marmota e ao mármore
no qual Micheângelo ou Rodin...

( Insulado é o corpo humano /
fechado em si para a vida /
Hermética ilha a vida em seu interior /
ou seus inúmeros interiores físicos, químicos, eletromagnéticos,
espirituais ...
os quais trancam o castelo feudal
com ponte levadiça
abrindo a flor em racimo apenas ao espírito pensante
à alma filosofante que doa amor
ao rapsodo que recebe... )

Sob a perspectiva filosofante da obra de Joan Miró /
naquela noite que eu imaginava ser uma mulher pintada pelo artista /
( e não uma noite propriamente dita ) /
apenas minha filha andaria comigo /

Ela estaria junto ao meu caminhar /
na melhor parte do meu caminho sob lua /
abaixo do luar balouçante /
móvel lua similar a um gato sorridente /
no escuro que faz tez da madrugada /

No seio daquela noite pintada pelo palor do luar /
que no novilúnio não é lívido /
não é de uma lividez que vai ao amarelo macilento /
pálido amarelo do vampiro inexistente /
imagem tétrica da noite /
representada como ser humano /
conquanto morto-vivo /
sem o sol regando a diva anterior aos cabelos louros da aurora semi-desperta /
mas com a lua e as estrelas notâmbulas /
caçando morcegos e corujas pelos coruchéus /
sempre, entretanto, contíguo ao alvo que corre no leito ou álveo do leite /
da terra que mana leite e mel de abelha amada no favo /
com flor de laranjeira para o amplexo na barra da alva /
favo engasgado e engastado em abelha /
engaste da abelha-rainha /
uma gema-viva e mais preciosa /
que o tesouro do mel /
- arroio suave originário do néctar da flor...
Em perene canto de aboio
- o arroio...
descia a madrugada

Andarilhos à sombra imensa da noite /
sabíamos que somente minha filha teria genética /
para me seguir por aqueles ínvios caminhos de peregrinos /
dentre os quais ela buscaria comigo a mulher dentro da noite /
não a mulher de Miró integral no corpo de trevas noturnas /
mas apenas uma mecha do cabelo da mulher virtuosa /
essa safira ou preciosa ametista /
pérola negra esmeralda turquesa turmalina /
porquanto a mulher virtuosa é um ser quase mitológico /
se não fosse tão simples assim /
como um unicórnio /
( o unicórnio alegre de Salvador Dali
- unicórnio surreal, surrealista
sustentado no universo surrealista do pensamento...
- que pensa o sonho
um jardim para o vegetal
- o onírico vegetativo pensante
no sistema nervoso
que envia mensagens ao corpo humano
e ao corpo do unicórnio surreal
ou mitológico mítico...
- mito que cavalga rito!... )
um ser no meio do existente /
- meio existente no meio da vida /
em meio ao meio ambiente /
porém ser apenas na fauna do cérebro humano /
e não ser existente na realidade natural /
( fora dos fatos naturais /
presente e existente somente dentro do cérebro /
e como símbolo da mente /
que criou o unicórnio /
como Deus criou o homem e a mulher /
para além do meu cepticismo estúpido /
que existe ao sabor do pensamento imaginativo do homem /
dentro desse mundo interno ) /

Enfim, uma mulher bíblica/
já quase inexistente ou em extinção /
devido à ação predatória do homem /
alienado em mídia ou empresa /
ou outros monstros e ogros tais /
da alienação do pensamento turvo /
- torvo corvo estorvo /

Pela mulher dentro do corpo da noite /
em parábola de Joan Miró /
- na alegoria do artista /
a mulher que é a deusa /
na pele da noite /
noiva da consciência em tez negra /
vencendo a foice com que a lua se transmuta /
simbolizando o carrasco em forma de sociedade-foice /
( a lua desenha símbolo?!) /
- derribando com a guilhotina /
a cabeça da mulher virtuosa /
mas deixando ainda vivo /
por alguns minutos sexuais /
minutos finais de atividade elétrica
o corpo da fêmea /
que é semelhante /
não a Deus /
( às deusas gregas e romanas
do antigo museu do surrealismo grego... )
porém aos animais no cio /
para pasto de faunos e sátiros /
de mundo irreais para a paixão /
que odeio no cristão /
não obstante amar no pagão /
românticos surrealistas...:
surreais românicos!

A mulher em Joan Miró /
pura poesia é /
mas fora dele também /
- é poesia mais vasta /
ao se por no mundo /
ao por seu ser feminino no mundo /
aberto aos campos e prados vastos da filosofia /
que pesca e pesa mentes dentro de cérebros /
peixes em águas profundas /
- pesados cavalos-marinhos
sem cavaleiros ou amazonas a montar
livres no seu vegetar
e na sua pensante-vegetante filosofia
do real ao surreal

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

CHAGALL ( the cattle dealer, the flying carriage, the dream , the family ) )

Olhar a obra de Chagall
é um desafio poético
além de pictural
- uma invasão à filosofia vegetal do artista
pela decodificação do pensamento vegetativo
do poeta plantado em jardim próprio
- próprio Jardim do Éden e das Hespérides
ambos silvestres dentro do corpo pensante do poeta plástico
- corpo de fauno
para não titubear na semiótica
quando da leitura e posterior escritura
dos geóglifos individuados em cada ser
pelas circunstâncias naturais
e o contexto historial do indivíduo
que é tão único
que não se pode buscar o homem morto
nos rastos de seus filhos na aurora
ou na noite tenebrosa
porquanto os filhos possuem dele
e postam dele no ser
um pedaço desprezível e amuado daquele ser
que na filha vira em muxoxo feminino
pois na reencarnação possível
na graça da escrita genética
o karma é outro
- outros atos e fatos
fazem um ser
que guarda do homem morto
apenas o rasgar do espelho na água

Observar a pintura do artista surreal
é proceder a uma devassa no espírito do filósofo
o qual tem o poder de minorar ou majorar a engenharia na vida
porém não tem poder algum sobre a vida
assente na planta da alma
nem quaisquer recursos contra ou a favor
dos ventos que sopram a alma para o interior da árvore da vida
( a árvore em ritmo de folhas e inflorescências
dentro do corpo humano
que é outrossim um corpo de fauno
meio a meio em anatomia e fisiologia para homem e fauno
- sopra de dentro do anjo que está dentro da forma arbustiva
herbácea ou arbórea
ventos para tocar o veleiro alegórico de Salvador Dali
- que é salvador dali
mas está sempre aqui
- no coração do fauno
o qual é a vida ou alma vegetal
alma em vegetação ou Flora
e na mixórdia do mito
- rito bizantino responsável pela mescla massiva
que faz o animal e o homem
emergindo do corpo anatômico e fisiológico do animal
desenhando a geometria no corpo metafórico do fauno
nos projetos em debuxos e gravados
que faz a poesia nascer
na alma do poeta
- e com a poesia se desenha o corpo humano
anatômico e filosófico
fisiológico e científico
( A poesia é uma clorofila em verde
impregnada na alma do ser humano
e uma pérgula com um anjo azul
e outro anjo sorrindo surrealista
na alma de Salvador Dali

Ah! e a queda do anjo!
com anjo feminil de Chagall em queda livre
com todo o entorno tecendo as circunstâncias :
- com um violino mudo
sem mãos de violinista que o toque
baqueta em cruz
( tudo desenhando um pré-violinista
filho da álgebra árabe
e da geometria grega
duas filosofias para as artes )
violino cruzado-cristão!
ou em cruz sobre o túmulo da música
na estrada cristã
pois a cruz é uma asa desajeitada
que os incautos imaginam que tem a capacidade de voar
além das águias e do falcão peregrino
grudar céu no azul
- no alto azul )

Sol amarelo
vela pálida
burro lívido
mulher com criança ao colo
Cristo crucificado
transeuntes basbaques
com a aldeia ao fundo
casas tortas embriagadas
em passo trôpego de ébrio
que chega da noite pelo rasto alvo da manhã
refletida no orvalho hialino
e figuras negras se retorcendo nas trevas
atrás do feminil anjo escarlate
em túnica carmesim
caindo da altura do céu
- do céu da alma de Marc Chagall!
poeta plástico )

Pairar com o olhar mergulhado sobre a obra de Chagall
é um desafio estético e sapiencial
não de mergulhão
com o cérebro nadando no sangue do peixe
( mergulhão-de-alaotra
ou grebe-de-alaotra
mergulhão-de-touca... )
e procedendo a um périplo pelas Antilhas
respirando água e terras ilhadas
no mar do Caribe ou dos Caraíbas
que foram extintos pelos arrivistas )

Por os pés dos olhos nos caminhos pictográficos de Chagall
é uma invasão bárbara à gnoseologia do autor
empreendida pelo pensamento vegetativo
do poeta aberto ao espaço e tempo da vida
- uma devassa na alma do artista
que fica num enclave entre o vegetal
e o sistema nervoso vegetativo
que desvela o universo em poesia
e a vida em glicose
com uma simplicidade e de uma forma tão versátil
com versos em hemistíquio
e melodia em cacofonia para diatribe
( Alma é flora e fauno
e não o avantesma cristão
- velado abantesma! )

Admirar a obra de Chagall
é observar o homem morto
emaranhado em sua criação
retratado nas suas invenções
codificado na vida
através de signos e símbolos
que fabrica a linguagem poética e matemática
ambas em lógicas diversas
para cada sistema encefálico :
o sistema nervoso central
e o sistema nervoso autônomo
dois modos de pensar
sendo s sabedoria concernente ao sistema vegetal
e o conhecimento ao sistema nervoso central
que limita o ser humano à razão e sensibilidade
( sistema canhestro e anti-fauno )

O artista é irracional
pleno do fauno
quando grafa e pinta a poesia plástica
em sua obra de arte
submetida às normas de uma gramática
que atravessa o imaginário
- arraigado na raiz
que bebe do pensamento em terra
onde está a erva assente
( As ervas andarilhas
são amazonas galopando na ventania
à revelia da credulidade dos estultos
porquanto são filósofas cínicas
compêndios e enciclopédias vivas
com o sistema nervoso autônomo
simpático e parassimpático
que pensa a alma dentro de uma arquitetura
a qual realizam na estrutura de uma engenharia
para ervas formas arbustivas lianas trepadeiras em pérgulas
e outros agentes vegetais
que sintetizam e mantêm a vida
enquanto houver alma na atmosfera
e não sobrarem apenas as bactérias anaeróbicas
- as quais não respiram por alma
ou não captam a alma
nas camadas do ar

As ervas peregrinas
são cépticas no que tange ao Apocalipse
e outros eventos-sonhos ou pesadelos
que pesam nas pálpebras do homem que dorme
- quase como o homem morto
que será um dia
ou noite sobre o dorso do negro corcel a galope desenfreado
levado para nenhum apocalipse real
porém apenas para um ritual em teatro
- sempre religioso é o teatro
a cantar o bode ou Pã
ou outra encarnação mítica
que a miragem do homem no deserto
faz crer real )

Nietzsche transcreveu
num racionalismo irracional
sobre o que há de radical na tragédia
pois a vida é trágica
irracional e vegetal
e pensa a alma pelo método vegetativo
que é uma bifurcação do pensamento
nas terras conquistadas pela floresta das amazonas
- pela amazona que cavalga e apeia da lenda
numa versão feminina de Alexandre Magno
cavaleiro originário da "Magna Grécia"
cuja onomástica não tem compromisso com a historiografia
ou quaisquer outras ares de ciência
sem licença poética

O poeta é irracional
no que põe o ser em hieróglifos
sob forma de poesia
ou vegetação interior
- arraigada ao solo
e aos símbolos nos geóglifos
que dança a dança das três Graças de Canova na poesia
Empunhando o clarinete
bebe o pensamento da terra
que Nietzsche transcreveu
numa racionalização do irracional
posto na solenidade dramática do ritual trágico
pois a vida é tragédia irracional cantada em coro
e vegetal em soro

O vate pensa a alma pelo método vegetativo
sendo o filósofo natural
propagando a filosofia do sistema nervoso vegetativo
esparso na inflação das ervas
exércitos que tomam tudo de assalto
- até a alma
que é uma parte de erva no fauno
( O irracionalismo do filólogo e filósofo alemão
tem um quê de vegetativo
Aliás, é todo o pensamento vegetal profundo
- um pensar vegetal ou vital
a perambular pelo corpo do fauno na vida
e na alma pagã
- que é a vida em verde )

O artista é racional entretanto
ao se utilizar do conhecimento erudito
que é uma forma mitigada
do pensamento vegetativo
mais ancho e criativo
- pensamento criador
( O criador está no núcleo deste pensamento
arraigado nas ervas do sistema nervoso vegetativo ou autônomo
que cuida de manter a alma viva e pensante
na criança com a primavera no corpo
no jovem na intersecção com o fauno
a flora ninfas nereidas
Afrodite Calipígia
Vênus de Milo...
No que tange a lira lírica
concernente ao adulto e ao velho
com a devastação do inverno
e o advento do outono amarelo
- amarelo cavalo do Apocalipse da amazona
com inflorescências amarelas em clarim e trombeta
ressequidas floradas no fim do lilás
do saxofone em fim de improviso musical
a soprar anjos que caem
no tombar das folhas decíduas
de planta caducifólia... )

Ler a obra de um artista
é um trabalho ingente
porquanto demanda uma leitura bifurcada
que se estende da leitura viva do leitor
à leitura morta do poeta
que levou consigo todo um tempo irrecuperável
debaixo do rosto de hera e lodo
que a chuva trouxe
e semeou ao pé do jazigo triste
- de uma melancolia inenarrável
em cada gesto dos operários que o erigiu
ou nas palavras piando desamparadas na lapide
- palavras perdidas
que lembram uma ave perdida de sua mãe
a piar desesperadamente
- o inútil pio do pio ser
( do Pio Papa! )
desenhado por toda a parte
sempre na forma da "Piedade" expressa por Micheangelo Buonarotti
que vaticina toda a dor da vida
com Maria Pia
pranteando o homem morto
no filho morto
- morto em Cristo!
...para a morte eterna

Chagall apenas se lê
e se torna surreal
no canto do galo
quando a alma vem em olhos de quem lê
- de quem abre os olhos dos signos e símbolos
na manhã álacre com o passo no pássaro
que canta todo o candor impresso na barra da alva
ou na flor de laranjeira
flutuantes na alma vegetal das noivas do pintor
( Alma é sempre vegetal
- glicosídeo que sustem a vida
em sintonia fina com o significado em latim )

O pintor da aldeia russa
executou muitos poemas plásticos
com um violino de violinista azul
para acessar o que é celeste em Paganini ou Mendelssohn
e outro violino de violista verde
pastoreando rebanhos de ervas com o vento
em suas pastorais em silêncio áureo
- na calada da noite severa
onde se enredou a tragédia do homem morto
no silêncio do respirar dos violinos
- interlúdio
( Um Stradivarius e um Amati de Cremona )

Chagall é o homem morto
o não-ser universal do homem
que vem do escuro ao lume
e vai de volta da luz ao mar de trevas noturnas
aonde não estava nem era antes de nascer
usufruir do natal
e da curta vida de caramujo
com toda a gravidade de Atlas às costas
na costa do Atlântico ou do Pacífico oceano
- mar oceano

O homem morto eu conheço
ou reconheci na máscara mortuária de meu pai
na mortalha de alguns amigos
em peregrinação ao Hades
descendo ao Seol

Todavia a mulher morta
não conheci senão uma :
- minha avó!
Ela é a Ofélia de Hamlet pintada por Shakespeare
nos quadros com noivas de Chagall
- noivas da vida e da morte
consoante esteja a flor de laranjeira
com alma de perfume desde a barra da alva
fechando os olhos belos e jovens da noiva
com o orgasmo nupcial
após o coito subsequente ao matrimônio na aldeia russa
ou então os olhos vidrados
a contemplar a escuridão inicial e final
na solidão do espasmo da morte
- dançando com um miosótis!...

O homem morto
- a mulher morta
nesta ladainha social
é mais presente e atuante intelectualmente
ou espiritualmente
se o veículo for a religião
do que o homem vivo
- nós que estamos "por aqui!"
( imagine o gesto sugerindo cortar o pescoço
ou se preferir a cabeça dada ao carrasco )
ainda andando em pré-morte
empós o pré-natal
subjugados aos vivos capitães
aos respectivos cônjuges
que se agriolham mutuamente
( casamento putativo! )
e até aos mortos com fundo fóssil
são outros tantos capitães ou capelães
- para cobrir a cabeça
e não ousar descobrir nunca

O mundo vive do medo
que inculcam ao indivíduo
e o indivíduo é o mundo
- o universo preclaro-estelar
e tudo o mais que salta aos olhos
e cabe ouvidos adentro
- tudo que escuta ao percurtir nos ossos do martelo e da bigorna
do ferreiro em oficina no ouvido interno
que temos e somos Vulcanos auditivos
- e tudo o mais que avança e toma de assalto
o cosmos e a cosmologia
a cosmética e a cosmogonia
com a legião de captores de cheiros à frente
armada em infantaria no cavalete de cartilagem do nariz
( as narinas a resfolegar
qual corcel bravio na batalha do apocalipse
a abrir a flor em fragrâncias
em Guerras Púnicas )
- a tez que cobre o frio em corpo
( encorpado xarope com uva para o tinto das coisas
invisíveis de outro modo
- tirantes ao insensível
que viaja vago no espectro
mas não nos olhos em viés geométrico não-euclidiano )
e experiencia a tepidez da manhã anã amarela
tímida ao ser suspensa no azul
e cuja experiência experiencia ela própria
useira e vezeira da doutrina do empirismo
e no ato de auto-experenciar )
que ronda o espírito humano

Tudo e todos é o indivíduo
e não existe mais nada
excepto a nadidade
dada pelo indivíduo
posta ou postada pelo indivíduo
único ser e ente ser solitário no mundo
entre entes
- é um solipsismo de eremita
condenado a uma solidão
insulado na ilha que é
Robinson Crusoé em melancolia perene

Tudo o que está na existência é o indivíduo
- inúmeros deles isolados em si
presos à ilha de dentro
pois há miríades de indivíduos!
- e o sentido da gustação
é a ciência que demonstra num teorema de gastronomia
que tão-somente existe o indivíduo
de onde parte tudo
e nasce o mundo social e o universo
até o dia da morte de qualquer um dos indivíduos
- cada um prova o seu bocado
isoladamente
insulado no arquipélago do sabor individual
que é incomunicável

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

DEBUSSY ( Dr Gradus ad Parnassum / Sonata for Cello and Piano in D minor )

O homem morto
é aquele que só tem vida para trás
- não para a frente
( Vida pretérita não é vida
apenas alegoria de vida
metáfora para a alma morta
sem clorofila e outros glicosídeos
industrializados pelo violinista verde
a um tempo um boticário
e um hábil farmacêutica
dono de uma farmácia de manipulação
- um herborista enfim
herbolário ervanista )

O morto desquita-se da vida
que é o vegetal no ser humano
o qual faz a flora e o fauno
funções do corpo anatômico e fisiológico do fauno
olvidado nos compêndios de medicina e biologia
ou antropologia forense
Possui apenas memória de vida
na alma do retrato
- ponte de luz e sombra
dispersa no tabuleiro de xadrez
com o pé escuro da noite
e o pé claro do dia
a pisar as casas no tabuleiro
- relojoeiro
joeiro a joeirar

Ser de vida pregressa
sua vida é iconográfica
geometria de alma escapista
também verbal
de papel manchado de signos
desenhos em nanquim
- longe do vegetal
do verde vitalício
excepto até onde for pintar as bactérias
sua obra surreal por mãos de Joan Miró
e outros seres verdes naturais
atentos nos miosótis
teimando não serem esquecidos
( "Não-te-esqueças-de-mim"
é a letra da canção lendária
que geme o pobre miosótis
já planta a medrar no Jardim do Éden
primitivo corpo vegetativo do homem
- definido na onomástica como Adão
o Adão onomástico )

Não vegeta sobre o solo
( para clarinete violino terra fresca
com cheiro forte de raiz de erva daninha viçosa )
não mais é vegetativo
- o sinal é negativo para o vegetativo
e não passeia os cabelos crespos pelas ervas
com o pente da brisa fagueira
penteando folhas defraudadas ao vento
qual bandeiras de navios piratas
com bandeira negra hasteada
no navio do capitão Barba-Roxa
ou de algum corsário ou flibusteiro
piratas do Caribe
do mar do Caribe
o mar dos Caraíbas
- autóctones aborígenes indígenas
em pé de guerra contra os alienígenas

O sistema nervoso vegetativo
ao cessar o fluxo vital
o qual fui na água
- rio em cachoeira no sangue
procede à falência dos nervos e órgãos
( Pára os Órgãos dos organistas Buxtehude e Bach )
ao perder o vegetativo verde
na parada ou quietude incômoda da água
que não mais flui ("fluminense") em longo e doce riacho
- fluído indo para baixo
aonde o mar brame e espuma
( sem altitude na ""baixada"" dos Países Baixos )
O simpático e automático ( autônomo ) sistema nervoso
cuja função precípua é alimentar um berço de mar oceano
com uma berceuse composta por Debussy
pensa e nutre os demais sistemas
- pensa a vida
e sabe da alma
e do corpo humano
uma mescla de espaço preenche de matéria
e tempo dinâmico ou energético
- Entretanto o homem morto
que ficou deitado em cruz pelo caminho
é um objeto que perdeu a planta
e a semente angiosperma ou gimnosperma
espargiu pelos caminhos verdejantes ou ressequidos

O homem morto
não partilha do pistilo da flor campestre
portando não está presente na rede vital
que é vegetal nos primeiros passos invisíveis
de uma forma arbustiva a medrar
ou um tronco de árvore a se entortar
no frenesi por raios do sol
porquanto alma é verde
derreia-se pelo verde
- verde clorofilado
afinado pelo violinista verde
e o azul no céu
tocando uma berceuse cerúlea
antes que se proceda à calefação das trevas
e venha célebre montada num alazão
a amazona cuja missão é anunciar de anjo e trombeta
o apocalipse feminino que se avizinha
na ponta dos cascos com ferradura
batendo em ritmo o tambor do solo
( ou solo de tambor
no ritmar das patas do cavalo bravio relinchando pavorosamente
enfatizando que as bestas são convocadas
para porfiar ferozmente e até a morte
na guerra do Armagedom )
solerte e paradoxalmente entregue à própria sorte
e aos sortilégios das feiticeiras
- tudo antes que seja meia-noite
e surja o anjo exterminador
empunhando a espada justiceira
e o exército dos demônios
em legiões romanas
sustente a batalha até a alva
desmaiar no céu
que antes era treva
e boca de treva
a devorar cor
de anã vermelha

Sem sistema nervoso vegetativo
simpático e parassinpático
- carente desses sistemas de pensar a vida
construir arquitetar e manter a vida
hermética na alma
assim o homem morto
não pode mais pensar verde
pensar vegetal ou vegetativamente
refletir e defletir o verde na alma
pintada dentro de um verde invisível
com tinta pra semblante de taitiana
que Gauguim não pintou legível em espectro
não deixou pensada e relatada
mas apenas em nuances de cores do verde
extraído do ciclo vegetativo
que engendra a vida
e a engenharia da alma
( A engenharia da alma é mecânica
move-se no sentido vetor do latim
e na força em aceleração de Newton
o filósofo natural junto à Darwin
que também pensou a vida em natureza )

O homem morto
dependura-se no verbo e no retrato
porquanto sua vida é um artefato
sem alma na concha
- concha acústica
aonde se pensa foi parar o som do mar
no vento rascante

O morto é visível em seu tempo
apenas cercado pelos objetos do seu tempo
que mantém seu corpo metafórico ou em holograma
na jaula da iconografia ou da hagiografia
através dos móveis e utensílios circundantes
circunstanciais
que fazem o tempo
com mãos de carpinteiros e contabilistas
cercando-o de objetos e artefatos
os quais o daguerrótipo flagrou
como resquícios e relíquias no corpo do tempo
quando vivo o homem
a mirar do fundo do retrato
a cantar no fonógrafo
quedo no museu do som
sem as cordas das ondas senoidais ou vocais
registrando a voz guardada no relicário
- dentro do ouvido interno
que escuta o que alguém já ouviu
quando estava com o corpo imerso no tempo
- banhado pela água do tempo
que lhe dava alma
pingando vida na chuva
( O fonógrafo é um ouvinte do tempo
que capta a frequência do homem morto
canta e ouve com ele
junto ao ouvido de quem continua vivo
porquanto o fonógrafo é um ouvido externo
que promove a intersecção entre vivos e mortos
- artefato que guarda o tempo incólume
na Baía de Baffin
no Golfo de Carpentária
ou no mar Cantábrico )

Aquele que pereceu
é um ente inexistente
enterrado no ser
- com alma arraigado no ser
porém não alma natural
mas alma artificial
plantada no discurso
que recolhe e doa essências
onde não mais há existência
do ente fenomênico
que partiu o coração das cinzas
no charuto e no cachimbo
que faz o vento fumar
no evolar e enrolar da fumaça
em volutas espiraladas
que denuncia os caminhos
e a dança ou balé do ar
um bailarino com corpo de vento

O homem morto
Ah! o homem morto!... :
Este ser não mais existencial
teve a vida dissecada por conceitos
concepções filosóficas sobre essências
pois o morto é apenas um corpo sem porto de alma
sem visita de fantasmas
sem existência
sem prática do existencialismo humanista e ateu ou agnóstico
que caracteriza o sábio incréu
pois o filósofo sempre é céptico
diferentemente do parvo
sempre crédulo
e pronto para mudar de crença
conforme a política filosófica instante
no momento vento que passa
pelo om do coqueiro
e do coco que cai
no solo para coco
sopro e instrumentos de cordas no vento
- o vento é templo para música

A morte é uma realidade trágica
para dois poemas
- um poema trágico
ou canto do bode
que pode ser de Pã e dos sátiros
- enfim o canto não do cisne
a celebrar a morte
mas do fauno a afirmar a vida
e conceituar a alma em latim
porém não em significado cristão
mas sim em sentido de latim pagão de Roma imperial
sob césares tenazes e corruptos
Por fim o outro poema é o cômico
uma ópera para rompante de bufão italiano
- ópera bufa
originária da comédia da arte
e da comédia e sátira grega
com Luciano de Samosata no frontispício
e outra obra que traduz a ironia que perpassa o pensar grego
fluindo do racional ao irracional
desequilibrando Shopenhauer e Nietzsche
em tempo desagregado
do homem gregário
face ao morto solitário
ou em solitude corporal

A natureza em flor para o homem vivo
é o paraíso com serpente peçonhenta
- flora e fauna
no imaginário incapaz de ler símbolos
enroscados dentro dos signos
que os gregos tinham ao evocar o deus Pan
o grande sátiro
o bode meio homem
o fauno romano
- enfim um ser divino
porque ente natural ou silvestre
e social no culto religioso
que é o rito da tragédia
- um canto para um deus
ou para vários deuses
pois é a natureza em pelo eriçado de luxúria
que subjaz em inúmeras divindades
- subjacentes divindades
floradas no fauno

Hoje atua a superstição ingênua e totalitária da ciência conceptual
que não sabe ler o fauno
nem tampouco reconhece
a anatomia e fisiologia do fauno
antes a ignoram
por preguiça de desvelar o código subjacente
que assinala a semiologia do fauno

Inspirados e ancorados na obsessão cristã
sobre a monogamia
apresentam e cultuam tão-somente o corpo da deusa
ou corpo de mulher
que ficou sem a companhia de um deus no panteão natural
( e sem sexo consequentemente!
ou com sexo para boneca inflável...:
no uso sagrado da camisinha-de-Vênus )
quando surgiu os conceitos e onomástica para flora e fauna
vegetação e animal
em menoscabo ao princípio fundamental
de macho e fêmea
princípio da gênesis
e da razão suficiente nos filósofos
( eleatas estóicos cínicos idealistas realistas materialistas
pragmáticos ... de filosofia maior ou menor
consoante a necessidade contextual
que veste e reveste a alma
no que urge o tempo
sem mugir nem tugir evidentemente )

A realidade greco-romana
expressa em mitologia
( antiga ciência com poesia
ou ciência com alma
ciência viva
ou ainda filosofia
do filósofo natural à la Darwin ou Newton
ou da filosofia maior de Aristóteles
cujo objeto de estudo é a física ou natureza do fauno
e a metafísica ou pensamento humano
expressão que o compilador do filósofo cunhou
ao sair da física do estagirita
e o pensar do fauno sob o sistema nervoso vegetativo
através das artes poéticas e plásticas
e também da geometria
ciência que mensura o objeto metafísico ou apriorístico )

O estudo do animal enquanto fauno
do corpo do animal sob o corpo metafísico do mito
sendo a mitologia a metafísica primeva dos antigos
um corpo de estudos para pensar o que não é física ou natureza
consoante o "deus" ou a "deusa" seja da mitologia grega ou romana
Afrodite ou Vênus
Esta avoenga anatomia do corpo humano
ao mesmo tempo exprime o vegetal
presente no macho e na fêmea
porquanto é o vegetal o primeiro animal
ou animal lento
de gestos em outro ritmo dentro do tempo
gesticulando em outro espaço para olhar
e o animal
que é o vegetal lépido
livre da raiz
que o prendia ao solo
( A anatomia e fisiologia do fauno e da flora
pode ser estudado dentro do corpo humano
na semente ou sêmen do macho
que é o fauno romano
da indústria extrativista do mito
e no ovo da vida
objeto vital
que expressa o animal o vegetal
no animal fêmea
enquanto flora
na forma poética
e delicadamente poliforme da deusa Flora
ou energia quântica
consoante o violino empunhado pelo homem no tempo inventado
aventado para evento de vento nas narinas sopradas pelo oboé
arcano musical
no coro das Musas com o violino )

Hoje se despreza o fauno
ou forma zoomorfa do ser humano
ou os debuxos da idéia antropomorfa da divindade
presente no homem e na mulher
pela operação da mitologia
nas formas do fauno e da flora
em atenção ao princípio fundamental de macho e fêmea
na dança da natureza
que une fauno e flora
no amor sexual do homem e da mulher
primitivamente uma paixão
expressa na vontade do macho e da fêmea
que buscam se realizar no sexo
e neste dar à luz outro ser

Não obstante o bom senso
prevalece o contra senso
tamanha e tacanha a estupidez científica
transliterada para a onomástica
porquanto não mais o Fauno exprime a natureza do animal
no corpo anatômico e fisiológico do homem
bem como o vegetal
que é onipresença na folhas que circunda a cabeça do fauno
e a cornucópia à mão
pois a demência cristã
que tudo invadiu e perturbou gravemente
enfim, o imaginário sem tato para a arte e a natureza
na ciência cristã
apenas passeia pelo conceito de flora
a deusa da vegetação
ou diva vegetal
ou divindade presente na realidade pelo sistema nervoso vegetativo
que tudo cria e cura
graças ao poder inenarrável da criança miraculosa
( Todo o poder da criança
é o poder de Deus transliterado )
Todavia e contra toda perspectiva filosofante
hoje sob a ciência subserviente ao cristianismo
sobrevive apenas como objeto mental
a duplicação estéril e espúria do feminino
a ignorar a fertilidade
e a necessidade de paixão sexual
do mundo vegetal que está imerso nas matas do sistema nervoso simpático
parassimpático ou autônomo
com piloto natural e automático
autônomo piloto
que guia o sexo do homem
ao sexo da mulher
no princípio que move o universo
com flora e fauno
- e não flora e fauna
( não flora e fauna!
duas expressões para a feminilidade!
- uma aberração do pensamento )
excepto se a opção sexual se orientar no sentido da Ilha de Lesbos
onde se deu a poesia de Safo
que canta o amor entre mulheres
ou do homossexualismo na Grécia e em Roma

O homem morto perdeu a alma
ou teve sua alma retirada pelas narinas
e colocada numa ânfora
e junto à alma retirada cirurgicamente
veio tudo o mais para o exterior
ficando dentro apenas uma disfunção
em mefítica podridão
sob os bálsamos da múmia

Perdida a alma
que é a vida ligando tudo
colando o pó do barro
ou os cacos da ânfora ou o alabastro despedaçado
buscou a idéia
outra forma de alma
que não obstante a forma
não tem conteúdo de alma
não possui vida nem morte
existe e não existe simultaneamente
porquanto é uma mera concepção humana
um pensamento se procurando
no ser que cria o homem vivo
com a alma enterrada no barro do corpo humano

Enquanto idéia
o homem morto é tão-somente
a expressão da idéia em si
fechada em seu circuito ou diagrama esquemático
sendo uma idéia efetivamente algo universal
a simbolizar o homem universal
o qual de fato não existe
uma vez que tal homem
é todo homem ou todos os homens
ou todo homem enquanto indivíduo
separadamente ou insulado do contexto
o que não precede à existência
mas sobrevive apenas em essência lógica
escrita e apta para existir enquanto história
( glifos e hieroglifos e geoglifos nos genes
ou signos genéticos vivos
que se escrevem a si
escritores, auto-escribas que são do corpo humano
cuja arte passa de pai para filho nesta guilda )
e portando ao representar ao idéia de todos os homens
e joeirá-la individualmente
concomitantemente não resta na conta nenhum homem
apenas uma concepção
de que se ocupa a razão
um conceito desenhado
na fina geometria árabe da álgebra
que descansa em belos arabescos
e cálculos tão abstratos
que não são nada
ou então é zero ou menos zero
e também tudo e infinito
simultaneamente e no mesmo espaço

Por fim o homem morto
traz à baila
desde os primórdios
do primeiro morto
a deitar irremediavelmente por solo
a expressão que ficou na lenda do miosótis
a qual exprime uma eufêmia primeva e milenar
a sussurrar `a boca do moribundo
ou do amante preterido
que súplice implora pateticamente
para não se esquecerem dele
quando se perder no azul miosótis do céu
- um mausoléu acima
da cova rasa
a brincar com as ervas daninhas dos baixios
aonde descerá seu corpo
já sem anatomia e fisiologia de fauno
nem guirlanda para a noiva
( uma idéia poética para sexo
casamento reprodução desejo luxúria
e outros demônios de Fussli
que assustam o pobre menino cristão
no quarto escuro ou assombrado!
- sempre Íncubos e Súcubos
na pornografia da Inquisição espanhola!
pois somente assim se justificava
bater o martelo para condenar inocente bruxas
que nem eram bruxas
mas meros conceitos de bruxas )

Por fim e para por fim
- o homem morto
não ressuscita mais
mesmo que fosse cristão
daqueles mártires no Coliseu
servindo de entretenimento a Nero
os nobres e o povo de Roma
( Eles só ressuscitaram na realidade do latim cristão
que cultuava uma alma sobenaturalista )
Nem o latim de Roma
o latim oficial dos eruditos romanos
escrito e falado por Júlio César e Cícero
Ovídio Lucrécio Horácio e Virgílio Romano
que poderia ressuscitar
- de fato não o pode de fato
( "poderia" é verbo indicativo no tempo e modo de inexistência
ou impossibilidade fáctica de existência
apenas possibilidade teórica
ou no ser que o homem fabrica
como o conjunto das coisas
com os objetos e fenômenos naturais
e artificiais no homem
em seus sentidos e significados )
pois conquanto seja o latim
uma língua morta
- apenas um outro homem morto
ou uma mulher morta
sendo língua ou conjunto de signos e símbolos
reunidos pela mente humana
que as arrebanhou dentre os artefatos culturais
- sendo portanto o latim apenas uma língua morta
o que equivale a dizer : um ser humano em signos e símbolos
um ser humano tecnológico
um ser humano alienado no artefato que inventou
não obstante esse fato inconteste
- o latim não tem mais contexto
para ressuscitar enquanto língua
porquanto não está mais na teia da vida
na teia tecida pelos poemas alcançados pela língua
não tem como ressuscitar a aranha
ou a vida simbolizada no aracnídeo "tecelão"
apto a tecer uma teia pontificial
que seja ponte ou liame
entre a alma morta na antiguidade clássica
e a alma vital presente no mundo contemporâneo
alma coeva
Tal tarefa é impossível
mesmo sendo o latim
tão-somente uma língua morta
nada mais que um homem morto em signos e símbolos
com a cruz cristã
cruzando as pernas irônicas
sobre a pedra tumular
à beira da estrada

Do exposto pode se concluir
que nem mesmo uma língua
que é apenas um trapo de homem feito de signos e símbolos
não sendo um ser vivo
não trazendo u fauno dentro de si
pode ( não pode!) ressuscitar dos mortos
e voltar a estar entre os vivos
- imagine um homem
- o homem morto
voltar à vida
arrastar a alma que se perdeu no ar
de volta à inspiração das narinas ansiosas
ou sair da hóstia
tal qual um pintainho do ovo
retomando caminho a pé descalço
neste mundo hostil
com hostes de bárbaros
e hóstias de padres da igreja
a gemer "amém"
na eufêmia infinda
que prostra o homem
semelhante a uma fêmea no coito...
exercendo o santo ofício
ou o sagrado ofício da prostituição
antigo rito de purificação e sacrifício

O homem morto
não é mais o homem
perdeu-se do ser
perdeu o ser
não pode mais dar o ser seu
às coisas que ele transformava em objetos
no entanto continua no ente
presente no corpo cadavérico
que se desmancha paulatinamente
até restar apenas a caveira e os ossos
onde repousa em travesseiro final
sem fronha alguma
nem sono ou sonho
ou pesadelo pesaroso nos olhos
- até que o esqueleto junto com o crânio
desapareça imiscuindo-se na história da rocha
- estela escrita com geóglifos
na língua do fóssil
- língua morta
latim de povo morto