quarta-feira, 3 de outubro de 2012

TRÂNSFUGA - verbete


Escrever é ir de encontro à solidão
conquanto seja também fugir à solitude
( secular, regular e milenar )
ao intentar fuga impossível,
quiçá fugaz,
no estado material do gás,
assaz sem paz de ananás,
ou de animal rapaz,
da igreja o primaz
com denodo no sínodo.
Trânsfuga.
( Cidadão honorável do País das Maravilhas
com ervilhas ( "pisum sativum")
bilhas pilhas ilhas milhas da costa leste em amor este-nordeste amarelo de pintainho recém-saído do ovo bicado
quebrada a casca com aspas de aspargos por noz guardiã de amêndoa no caju, castanha...).

Andar é ir de encontro a pás
sem paz nos moinhos de vento,

( Oh! minha poesia andarilha!),
ouvindo pássaros a pipilar,
grasnar, gorjear,
mas não granjear
adeptos rectos...
em grasnido de gralha,
galha no esgalho
em toca ou nicho
onde o vento dá a volta,
faz volutas nas conchas e caracóis,
para achar em achaques
arroios de arroz ao sol e lua
eivado de achas boiando à flor d'água límpida,
com serpentes enroscadas no invisível anelado
onde o paul se espraia
preguiçoso e indolente,
lânguido tremedal,
moenda de praia
para arraia e alfaia
enquanto a deusa Aglaia
uma das três Cárites
dança no ritmo das três Graças
à oitiva em fuga da melodia de Antônio Canova.

Escrever ou ler,
é o mesmo ato,
o qual discrepa
somente no fato,
vincando um dueto
no que é unidade do ser,
sendo o ato de ler,
nada além de apalpar com os olhos,
e o escrever
gravar ou grafar o ato com a mão
ao ir ao encontro à solidão
e rir na amplidão do ermo
às gargalhadas em canta-vento,
na ermida do ermitão do monte
buscando fuga no papiro,
no papel  ou no pergaminho em rolos,
- na prensa de Gutemberg...
ou no museu do ermitão
( museu do eremita )
em contraponto polifônico
a tecer e tossir a possibilidade de fuga
pelo caminho ou rota da seda
aberta ao trânsfuga
pelo bicho-da-seda
e pela chinesa sem pelo
em cetim de chim
vestida e vertida
- numa trama hermética
com cetim roxo
ao olho de mandarim.

Andar é arrostar
arroios de arrozais
a plantar
suplantar
surrealizar
semear
selar (selá?!)
achar rota para a vespa,
marimbondo e  vespeiro
na hora vésper
em que Vênus planeja e plana no plano de um planeta
planador solitário no ar cálido
desnudo ao olho nu
no período vespertino
rumo ao país onde o gato é a lua
com uma vastidão no sorriso
do tamanho de lua falciforme
enovelada no céu feito gato
em modo de repouso
sobre os coxins de cetim
artefato de chim
em mandarim chinfrim
no país sempre das maravilhas
onde ande a fábula louca em lebre
( ao invés de louca de pedra:
louca de lebre! ),
a sátira em pé descalça
feito monja carmelita descalça
pé-ante-pé sobre a demência ideológica pueril do chapeleiro;
a rainha, vermelha do sangue das guerras das rosas,
brancas e escarlates nas roseiras espinhosas,
tudo no espelho do olhar
de uma menina meiga e eterna
que molha os olhos no arroio do não-ser senão sonho
na  mente de uma criança inocente e pura
de dois a 96 anos de existência
à sombra do idílio e das utopias pias
que a alienaram do mundo real
não-fabulista
insurreto ao surreal
dali, daqui e de acolá
que medra(!...) no chá
inglês e chinês
da vida em sociedade fabular
a satirizar a saciedade
da lagarta que fuma
e assim assume os ares de fumaça
dos homens sempre em comédia grotesca...

Todavia, Alice vê o país das maravilhas
( todos os países são países das maravilhas
dentro dos olhos límpidos de Alice! )
mergulhados em fábulas
que são águas onde o peixe-homem
(  ou homem-peixe-espada )
nada ao levante de sua nadidade
respirando através das guelras
ou brânquias
que os fabulistas fabricam
ao  bafejar da sorte
ou sortilégio sortido e sorvido
em sorvete a sorver.
Não sorvo sorgo.

( Ah!  Alice! Dulcíssima menina!
 Alice dos álamos das alas das aléias... :
Alice, ouça : todos os países se jactam maravilhosos :
entrópicos, eutrópicos, utópicos, idílicos...)

Alice não sabia
que a única maravilha
era ela que comunicava ao país
sopesado por seus olhos
- em dois arroios de rocio
da madrugada à sombra das umbelíferas
e das umbelas à mão de minha avó Maria.

A solidão de Alice
não passa ao largo
do que está na razão de três terços :
em um terço o mundo onírico refletido na vida ;
em outro terço no universo das coisas ou realidade ;
e, por fim, no terceiro terço da razão matemática
no universo paralelo da geometria euclidiana
que procede à intersecção da realidade e do realizado,
metade em Alice, que é um microcosmo,
e metade no macrocosmo,
aonde está a essência
o centauro, o fauno...
a ninfa e o deus Pã
ou Zagreu, avatar de Dioniso,
um deus com chifres
que pode evocar o bode
na religião órfica,
nos Mistérios de Elêusis,
ritos esotéricos,  apenas para iniciados,
e na tragédia grega,
que canta o bode devorado pelo titãs
no coro  dionisíaco,
rito exotérico, para o vulgo.
( de Dioniso a Eros, Pã e os sátiros,
o salto d animal ao homem
deixa entrever o medo abissal 
cortado na garganta da Cânion,
pois do coração pulsante de Zagreu
nasce Dionisío
- reencarnação do deus do vinho :
eis o fundo dos mistérios de Elêusis
e  o tema da tragedia
que versa sobre a vida e morte de Dionísio,
ou Dioniso, o deus ressuscitado
na reencarnação sempiterna do vinho
- corpo de uva e de Cristo na videira ).

Solidão e solitude
vão a pé na oitiva das palmas batidas para o vento
em dança e música com os buritis
por veredas que apertam o passo do sapato
ao encontro do espelho d'água
com a lagoa entre os coqueiros
sob chuva de marimbondos tecidos em xadrez
na feitura do corpo oblongo, longo e delgado
pela geometria da luz
- e das sombras projetadas por umbelas
pintadas por Caravaggio
ou pelo chinês em símbolo
no jogo riscado em xadrez
mensurado pela constante obtida em diâmetro
pelo "pi" radial
que dita o mal e o bem
e dista o mal do bem
para além e aquém do bem e do mal
animal ou humano.
( Em verdade, esses mistérios se referem aos seres humanos,
os únicos seres trágicos,
os filósofos com "pathos" trágico
simbolizados na linguagem da poesia :
os rituais quotidianos, comezinhos,
dos Dionísios e Alices familiares
os quais somos em essência e existência
conquanto sem ciência ou  sapiência
desta realidade mesclada com  realização
banhada por mar eclético ).

Alice no País das Maravilhas
é a constatação absoluta
da profunda solidão do ser humano
frente um mundo sem respostas
com os seres humanos
alienados em pessoas do discurso
- máscara ( "persona") e voz do teatro
soldado no "front"
amantes ou amigos sem intimidade
que não se tocam jamais
nem quando dançam
um desesperado e apaixonado flamengo
ou um tango, um samba, um bolero
de Ravel...em tempo ou ritmo "moderato assai",
com compassos em"ostinato"...

Solidão insondável
que das cavernas do sono
mergulhado no torpor, na modorra,
só vê sonho onde há realidade
- brutal e grotesca e amarga realidade
no tempo de fora do paço do espírito
- um tempo amargo de margaridas
com doudas borboletas
- doudas e "douradas" falenas
que douro no Rio Douro
em Sória,
nos campos de Sória,
( Oh! Campos de Sória
que com o poeta vai! ) ;
Campos de Castilha
no canto do poeta Antônio Machado
( Canto que é o sol sobre os campos! ).

 
Alice, enfim, sou eu invertido no espelho,
escrito ou desenhado geometricamente no espectro ;
sozinho entre coisas
errante necromante
solitário entre seres
- náufrago!

 
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