João Guimarães Rosa não contava, não narrava uma história : pensava-a
avo a avo : vinte avos, 30 avos rastreando o passo do tempo até os avós.
As estórias de João Rosa não eram narradas, mas pensadas,pespegadas
(pespegadas!). Não as contava
feito um contador de estórias bolorentas, mas pesava-as com um
pensamento
fundo que vinha da esfinge a interrogar o enigma, a recolher
silenciosamente e respeitosamente no logos os mistérios da vida e do
amor, que ,
na realidade perpassante, perpassada pelo fenômeno, é a realidade inata
do ser, vez
que o ser, em sua aparição fugaz, é quase um sonho ou quiçá um
soluço, uma efeméride ou, ainda, uma ideia de Platão
fincada na tese do filósofo arraigado na realidade-idealidade, que é a
vida humana exposta ao saber, querer, conhecer, sondar, vida esta que é
um meio-termo entre a existência e o ser, sendo o ser uma existência
prática, mas, por paradoxo, uma existências em práxis e teorética. Este o
método do mestre do sertão dos buritis em renque e do grande buriti :
pensar a
estória molhada nas veredas. Malhada a vaca mocha.
Ao pensar a
estória,
sob a forma de conto ou novela poético-pensante, o autor se pensa e
pensa o mundo rodeado pelo contexto invisível, alijado da percepção do
erudito escriba, que não pode escrever o texto e ler, concomitantemente o
contexto. Este João de bom barro, criador da estória pensada,
não narrada, poetizada, transtornada e transformada em história na hora
de Hegel, despontando na dialética.
João Guimarães Rosa rasgava as palavras e pensava
intelectualmente e sensivelmente a estória com onomatopéias, barulhos,
ruídos de
monjolos, visões verdes de buritis, gente valente e demente. Gente,
enfim, presente ( o ser) e ausente ( não assente no ser que dá o tempo,
que é o presente ou presença de ser enquanto ente, algo manifesto aos
sentidos ferindo o ser do homem ainda em absconsa apercepção : o tempo
faz florir a apercepção, espécie de intuição kantiana.( O ser é uma luz do tempo e uma corporificação do espaço, em conceito-pedaço, indefinido na definição).
Deus tinha seu canto e nicho nestas estórias, absconso em tutaméias, entremeado com o diabo, o qual rodava, rodopiava no
pó que o vento levantava entre levante e poente : um pó de vestido a desnudar a mulher
discreta e a sonsa : o diabo no rabo de saia, que saía solícito, sagaz,
indecente do guante em que estivera enrodilhado com cordas de ventos alísios ou monções.
Não há em Guimarães Rosa um contador de estórias, mas um
pensador de estórias, que a pensa solitário, em solilóquio, com o diabo
na ponta do verbo ao invés do verbo ser Deus. O pensador de estórias ia,
paulatinamente, se afastando, se arrastando para fora do do mundo
fictício, desintegrando o onírico e o lírico ao se transfigurar,
imperceptivelmente, sub-repticiamente em pensador da história, numa
evolução insuspeita : o salto evolutivo da estória à história.
Com Guimarães Rosa a novela
perde um narrador e ganha um pensador nada rigoroso, céptico, inconclusivo até
a indiferença ou descrença no conhecimento falho por palavras rasgadas
em versos cantantes nas bocas das Musas que estão no vento todo o tempo :
um tempo transluar, trânsfuga, do que deveio do veio do presente e virá
a devir no futuro co foco no presente, que carrega o corpo do ser, no
anto da ontologia, que só pode ser estuda por um breve instante, um
momento tenso-intenso, sem tensores ou sensores que a meçam, um
brevíssimo momento de existência no bojo do ato e do fato, que se
esfacelam, esboroam-se no líquido do ser. O ser líquido e o ser liquidado em grupo social.
A ontologia(ontologia!) é o fundamento
de todo pensamento, conhecimento, saber, literatura, sensibilidade,
ciência, drama, trama, poesia, estória, história humana; porém não tem
contexto no poeta e no novelista e, por isso, estes a ignoram; ao
contrário, o filósofo auto-consciente da ontologia, pois este o seu
objeto, o seu contexto, seu texto. A ontologia cobre o microcosmo e o
macrocosmo. Todo saber, todo conhecimento é, em princípio, ontologia.
Ontologia..., mas o que é isso : ontologia?!
Diriam os incautos que é
o estudo o a palavra do ser : o ser no "logos" "in loco" e em locução:
em tese ou na posição em nenhum lugar geográfico ou geométrico do mundo,
mas no nicho do homem : seus pensamentos ou mente frente à realidade e
de costas à idealidade que oculta tal idealidade partida em fatia da
realidade, sendo que nem a parte "realidade" é real, mas dado do real,
da coisa dada, observada, lançada(objeto constituído pela substância do
espaço e tempo que formulam o ser em outra expressão do espaço-tempo ou
energia-matéria).
O ser é algo que observa e é observado, que está no
estado e estudo da substância e fora da substância, bem como da energia
que sobeja da ralação matéria-energia. Isso física, química,
empiricamente; mas também, paradoxalmente, está fora do universo
epírico, num universo mental, que nem é universo, mas um "locus"
geométrico que não emana energia nem é emanada da energia, porem pensa o
mundo em si, no ser, e fora de si, na existência, universo "paralelo"
esse que acabou perfeito na filosofia acabada de Aristóteles, oriunda da
tradição de Parmênides, Zeno, da escol de eleatas que descobriram o
pensar d pensar, o pensamento debruçado sobre si mesmo e,
posteriormente, numa superação do auto-conhecimento, do mundo exterior
ou existência. O ser é plúrimo corte de realidade e irrealidade :
balanço ou dança de ser e não-ser, cortes de instantes que não se juntam
na mutação de matéria e energia. Dança cósmica, cosmogônica,
cosmogonia.
No ser estão os triângulos e teoremas que tais,
imortalizado no nome de Pitágoras : o não-espaço e não-tempo sem
energia e matéria, sem substância mesmo ou com substância desconhecida,
pois tal substância é o próprio pensar, nem chega a ser o pensamento
ainda, mas um princípio do pensamento no pensar, o ato de exercitar a
criação do paralelogramo, de onde provém a geometria
substante-insubstante, que se sustem no nada mental e físico. O ser e
não-ser na geometria por inteiro : um discurso ou pessoa do discurso nas
matemáticas, aritméticas, álgebras em seu solilóquio assaz loquaz com o
cosmos, ou o que o grego contextualizava no texto como cosmos.
João
Guimarães Rosa estuda esse ser que passa ainda agora à minha frente e
que não consigo parar em seu fluir, senão usando a memória como
expediente de memória falha, em miscelânea com a imaginação, as quais
tentam em vão captar o vivo, parar o que
não para, mas flui indefinidamente mesmo no vau do universo onírico.
Esse objeto falso com memória de vida, porém não vida no instante dado
em soma com o espaço momentâneo do presente tempo que envolve a presença
no espaço, é o
que estudamos e estatuímos como e enquanto objeto ontológico, o qual os
cientistas julgam mudar de forma e teor com uso de nomenclatura ou
terminologia, denominando pomposamente e jocosamente o objeto da
ontologia com o nome de objeto científico, vez que não podemos parar o
tempo e o espaço a fluir em rios, fluentes rios de Heráclito, o
Obscuro, mas apenas cortar em pedaços de instantes no presente que traz a
presença no espaço e tempo vividos; portanto, o objeto de estudo da
ciência é o não-ser, algo morto e
inexistente, envolto nas brumas do pretérito ou um ser já não em sua
função vital de ser, ou seja, de
sua existência exitosa já apartado, apenas restante em verbo, em logos,
em cultos matemáticos, na tese do lugar geométrico, que é um nada cavado
na mente, esse buraco de minhoca. Ser histórico para historiologia e
historiografia, rasgos e restos do pensar enquanto vivo e no momento ou
período o ser humano que assiste a presença a nascer do presente, nicho
da vida em teia e cadeia ecológico, etológica.
A ciência estuda um objeto falso :
um não-ser que se passa por ser que deveio e estar à devir. O artista
arteiro do sertão não diz isso, mas pensa sem o contexto, que será
objeto de ensaísta. O contexto é objeto do ensaísta fictício e real de Sainte-Sulpice,
organista que toca outra arte no opúsculo. O poeta que escreveu, chorou o
contexto que não pode ler, pois aquele que escreve está cego para a
leitura do contexto que abraça o texto em lamentações de Jeremias, pois
todo texto é uma escritura para o autor que se abre em leitura para o
leitor sagaz : abre o ser genuíno em tese na escrita que acolhe o ser do
escriba nos signos e símbolos e se oferece em sacrifício maia de leitura
dúplice a erudito, que pode ler texto e contexto de imediato, fato e ato
vedados ao autor do texto.
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sábado, 27 de abril de 2013
sábado, 13 de abril de 2013
LASCIVO(LASCIVO!) - wikcionário wikcionario
Dão-Lalalão de João Guimarães Rosa
com fortuna crítica de Paulo Rónai.
- Quer maior preciosidade?!
A obra do mestre e a erudição do crítico literário
e ensaísta da Santa Capela
que tirou este Brasil da miséria
inanição intelectual
que, inobstante, continua a grassar.
Leio-a ( a novela) à capela (Sainte-Chapelle).
É uma das novelas enfeixadas em Corpo de Baile.
Leio-a quase lascivo(lascivo!).
Gosto de João Guimarães Rosa
porque é um super-artista das letras:
João, do barro do sertão,
das folhas do buriti
e das águas das veredas
- nos dá água para beber à cuia,
faz-nos ouvir a água que toca sua música sem musa
no rumorejo do arroio
que busca um rumo sem pejo;
oferece um trago no cigarro do matuto,
apresta e apresenta o sertão,
- não em palavras!,
mas em vozes de gente e natureza,
vozes que se pode escutar nas gramíneas,
tocadas pelo vento do oboé...
João do sertão põe-nos frente com as personagens
feito fossem elas gente fora do teatro
ou das pessoas do discurso
( o discurso muda o curso
e onera o ser humano em pessoas
ou personagens do rito teatral
ou do mito escrito
por escriba-rã,
escafandrista).
João, de barro do sertão,
apresenta a terra e o homem,
não a obra e suas pessoas do discurso,
que se cala para o humano
na ciência política e no direito.
Apresenta o sertão em todos os sentidos
e para todos os sentidos alertas.
João, o batista de cá,
onde medra os campos gerais
e as minas que não há mais
desde o poeta mineiro desesperado
em lamentações de Jeremias,
fez qual um profeta que lamuria
um José que foi para o Egipto,
o José filho de Jacó,
que não era o Benjamim,
mas o penúltimo filho do patrarca.
(Benjamim era denominação
para o último filho
- o caçula!
E então, José?!
- filho de Carlos Drummond de Andrade!,
poeta de uma minas
desmanchada do mapa ).
Aliás, sem e com vanidade,
eu me leio em alguns livros :
Os sofrimentos do jovem Werther, obra de Goethe;
Grande Sertão : Veredas( ou Grande Satã...
- metido entre um buriti e uma juriti?!...);
a poesia de Alphonsus Guimarães;
e, no Dom Quixote imaculado, na Mancha,
onde o autor é o próprio livro! -
e não Cervantes, aquele judeu errante...
- que criou o andante...
(Não existe Cervantes,
mas o andante cavaleiro
a galopar um rocim fraco).
Sou o cavaleiro e o que monta o mulo,
o Sancho Pança,
rodando o mundo
nas patas do cavalo e do mulo
atrás de moinhos e de Dulcineia,
a única mulher amada pelo cavaleiro,
que não sou eu
- que amo a Dulcineia!
( Sou o godo ( ostrogodo, visigodo?)
- um bárbaro preso à escrivaninha
narrando gestas
sobre o lombo
de outras bestas).
Sou o poeta na escrivaninha
que olha a bem-amada
e quer a paz para sempre
ao lado dela.
A paz que chega,
passa e vai com ela!
Sou o profeta desistente
deste mundo de títeres e déspotas cruéis;
o vate que não clama mais por justiça
de forma renitente
porque seria ingênuo e inútil
crer em tais mitos humanos.
Agora sou apenas o homem
que, quedo e mudo,
espera na praia,
onde o poeta restou náufrago.
Aspiro tão-somente por um resto de paz
no berço que vejo nos olhos dela :
emocionados olhos negros
cheios de paixão e desejo ardente adrede(?)
da mulher que planta a minha vida
- na alma dela!
( Minh'alma se alimenta
do que ela produz em glicose
na relação de fótons e clorofila;
a alma dela
- fonte de alimento
retrata-me verde,
mantém-me e me devolve vivo
violinista verde violetado
na violeta dela...
( Ela que enfrenta corajosamente e confiante
o olhar do balisco
que olha-a de dentro de mim
- do nervo óptico).
Um dia sem vê-la
é um noite cega.
Vê-la por alguns segundos
é esclarecer o sol
que deixa de se ocultar
em região obscura da alma,
lado negro da lua em mim.
Vê-la é vivê-la
ao menso em olhos,
conquanto eu a queira inteira
- nua em pelo
corpo e alma...
O meu coração não está na Dulcineia,
mas na Cassia...:
única mulher que o basilisco aceita,
que passa incólume pelo crivo de seus olhos
graças à sua imaculada conceição:
imaculada concepção...
- seu imaculado coração de mulher!
Ela é meu mito
da Virgem Maria:
meu rito
da mulher real e idílica.
( O canoeiro da minha terra
idealiza o idílio(idílio!)
no rio da poesia,
mas ela realiza o ideal
na engenharia do amor
que beija e deixa-se beijar
na conjunção carnal
para além do carnaval
- para além do bem e do mal
do amém e do mel...
para além do céu!
- e da terra... ).
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João, do barro do sertão,
das folhas do buriti
e das águas das veredas
- nos dá água para beber à cuia,
faz-nos ouvir a água que toca sua música sem musa
no rumorejo do arroio
que busca um rumo sem pejo;
oferece um trago no cigarro do matuto,
apresta e apresenta o sertão,
- não em palavras!,
mas em vozes de gente e natureza,
vozes que se pode escutar nas gramíneas,
tocadas pelo vento do oboé...
João do sertão põe-nos frente com as personagens
feito fossem elas gente fora do teatro
ou das pessoas do discurso
( o discurso muda o curso
e onera o ser humano em pessoas
ou personagens do rito teatral
ou do mito escrito
por escriba-rã,
escafandrista).
João, de barro do sertão,
apresenta a terra e o homem,
não a obra e suas pessoas do discurso,
que se cala para o humano
na ciência política e no direito.
Apresenta o sertão em todos os sentidos
e para todos os sentidos alertas.
João, o batista de cá,
onde medra os campos gerais
e as minas que não há mais
desde o poeta mineiro desesperado
em lamentações de Jeremias,
fez qual um profeta que lamuria
um José que foi para o Egipto,
o José filho de Jacó,
que não era o Benjamim,
mas o penúltimo filho do patrarca.
(Benjamim era denominação
para o último filho
- o caçula!
E então, José?!
- filho de Carlos Drummond de Andrade!,
poeta de uma minas
desmanchada do mapa ).
Aliás, sem e com vanidade,
eu me leio em alguns livros :
Os sofrimentos do jovem Werther, obra de Goethe;
Grande Sertão : Veredas( ou Grande Satã...
- metido entre um buriti e uma juriti?!...);
a poesia de Alphonsus Guimarães;
e, no Dom Quixote imaculado, na Mancha,
onde o autor é o próprio livro! -
e não Cervantes, aquele judeu errante...
- que criou o andante...
(Não existe Cervantes,
mas o andante cavaleiro
a galopar um rocim fraco).
Sou o cavaleiro e o que monta o mulo,
o Sancho Pança,
rodando o mundo
nas patas do cavalo e do mulo
atrás de moinhos e de Dulcineia,
a única mulher amada pelo cavaleiro,
que não sou eu
- que amo a Dulcineia!
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A paz que chega,
passa e vai com ela!
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de forma renitente
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crer em tais mitos humanos.
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que, quedo e mudo,
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onde o poeta restou náufrago.
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- na alma dela!
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do que ela produz em glicose
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que olha-a de dentro de mim
- do nervo óptico).
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é um noite cega.
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que deixa de se ocultar
em região obscura da alma,
lado negro da lua em mim.
Vê-la é vivê-la
ao menso em olhos,
conquanto eu a queira inteira
- nua em pelo
corpo e alma...
O meu coração não está na Dulcineia,
mas na Cassia...:
única mulher que o basilisco aceita,
que passa incólume pelo crivo de seus olhos
graças à sua imaculada conceição:
imaculada concepção...
- seu imaculado coração de mulher!
Ela é meu mito
da Virgem Maria:
meu rito
da mulher real e idílica.
( O canoeiro da minha terra
idealiza o idílio(idílio!)
no rio da poesia,
mas ela realiza o ideal
na engenharia do amor
que beija e deixa-se beijar
na conjunção carnal
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- para além do bem e do mal
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