A cultura é o conteúdo da linguagem, sua forma; ou seja, a
cultura é uma linguagem que abarca, em
verdade, todas as linguagens faladas,(
cantadas : a linguagem em cantatas) , escritas ( para-partituras musicais,
matemáticas, algébricas, técnicas e tecnológicas, quando faz o artefato ou
discurso sobre o teor do mesmo em ciência), representadas teatralmente na
cultura, nas vestes, gestos, caretas, geometrias, etc.
A coleção de gestos, valores ( axiologia), vestimentas,
costumes, falas, timbres, prosódias, são conteúdos ou objetos da cultura, seus
artefatos manufaturados ou industrializados, enquanto o direito, a ciência ou o
mito do direito, e, na realidade, ambos,
que é o que constitui essencialmente, existencialmente, a ciência, tem sua forma concomitante na religião da
cultura, que, em si, ou de si para si e para o outro, é uma mera ficção de interlúdio
para piano e orquestra à moda de Tchaikovsky. A religião é uma ciência sobrevivente
do passado, um pretérito em mutualismo com a ciência que atua na função de
atriz social, instituicional, vigente,
consoante a cultura tenha se libertado parcialmente do vigor de sabedoria
simbólica e real que a religião encarna.
A cultura é a grande ficção do homem, que a antepõe e
sobrepõe, sobrelevando-a à natureza ( ou às naturezas nos moldes da engenharia,
biologia, ontologia geometria, arte artesanato...) , a qual fica em segundo
plano, num plano piloto, mas não geométrico. Como vêem, como enxergam ou
visualizam as ditas formas e conteúdos naturais aquelas culturas sem um Euclides? Ou cada uma tem sua
geometria “euclidiana”, sem Euclides grego ou Descartes analista de parábolas
em curvaturas no espaço sem tensão : espaço de extensão, o qual difere do espaço de tensão, que leva as forças
do eletromagnetismo, nuclear e elétrica, na amperagem e voltagem. Podemos percebê-lo,
surpreendê-lo garboso, majestático, infenso aos conceitos Greco-romanos, nos olhos dos aborígenes para a geometria
não-euclidiana, que eles, os indígenas, devem possuir intuitivamente, mas não
no sentido kantiano do termo?
Mergulhados como peixes que somos no oceano ou na atmosfera
da cultura que nos dá a respiração intelectual e sentimental ( o “pathos” e o
“nous” ) não existimos fora deste meio ambiente nem enquanto indivíduos ou
entes coletivos, pois o que somos é, com a cultura, entes coletivos. A individualidade
é um rasgo mínimo, um extravasar sem objeto.
Sem embargo, a cultura é apenas uma das inúmeras roupas ou
roupagens do ser humano enquanto linguagem e mesmo que esse ser humano esteja nu no
autóctone : é a vestimenta do ser humano grudada à pele, aderente, modulada nas formas que assumem as várias linguagens
que comunicam aos seres humanos em comunidade, o universo interno e externo do ser que
constroem perpetuamente no lugar onde brota o tempo e suas ervas, todavia sem
poder mover o poder e o viço das ervas, nem demudar seu sistema nervoso autônomo,
todo constituído de ervas daninhas ou plantas para cultivo, jardim botânico, botânica,
enfim.
No âmbito apertado dessas linguagens o ser humano forja uma
liberdade ou a própria liberdade, outra ficção humana, quiçá a mais grata e venturosa
: mera liberalidade. No Entretando, tal
qual o direito, a poesia,a ciência, dentre outras linguagens que perfazem o
périplo cultural, a liberdade, o
livre-arbítrio, a emancipação, a independência, não passam de ficção, de uma
porção ou quinhão originário no modo
onírico, que é parte considerável de nosso pensamento, ciência, arte, religião,
conhecimento, linguagens, enfim, sempre linguagem ou tecido translúcido e tênue
de teia de aranha cruzeira.
A cultura é perenemente devorada pela natureza, pois esta
última é real, enquanto a a segunda não passa de um vasto conjunto de linguagens,
considerando a técnica como linguagem aplicada aos conteúdos naturais.
A mesma ocorrência pode ser registrada no direito e nas
demais linguagens que a ciência assume ou subsume : a realidade natural sempre
solapa a idealidade imaginada ou a
“realidade” fictícia, enquanto cultura : conjunto de linguagens equacionais ou
nominativas e normativas.
As linguagens se equacionam para formar o feixe de relações
após nomearam os entes e, por fim, ou em
meio ao processo, se desenharem e escreverem-se em conceitos abstratos e
concretos, de modo a proceder a outorga de concreções ou abstrações, se não ambos,
concomitantemente.
Assim como ocorre entre a cultura e a natureza, no seu jogo
de preto e branco, no xadrez do dia e da noite, vida luminosa e morte escura;
enfim, neste jogo de luz e sombreado, o direito, que é uma das linguagens servis,
é sempre devorado pela política, uma
linguagem que transcende a própria linguagem, pois está no mundo brutal dos
fatos ou dos atos das bestas ( que somos!) que buscam o domínio sobre outrem e
sobre a totalidade das linguagens, ainda que isso seja simples utopia, pois a
paixão pela fêmea, território e prole, é maior que qualquer ato racional e
surda a qualquer atitude mínima de bom-senso,quando a dominação, que traz a
guerra, entra no universo social do ser humano do mesmo modo que no das feras
mais temíveis : isso é política e se resolve com rosnados semióticos e
semiológicos, porquanto a realidade é viva e mutante, mutável, não tem os limites
da linguagem, eivada de regras, sob norma, obediente ànto a idealidade , que
mesmo quando mero ideal se torna em alfange com o qual defendemos o cavaleiro
andante assassino medieval dentro de nosso sonho aldeão, quando a política ou o interesse contextual
vital prevalece ou há mister de que seja a prioridade, porquanto todos
aspiramos nos fundir a uma fêmea e forjar uma prole que nos dê um lugar num
novo corpo material, no futuro
imaterial, enquanto esse futuro não for o tempo atuante
Se tal futuro, no discurso lógico, não passa de inexistência
ou algo nominal-equacional (
nominativa-equacionativa )_ , que somente se torna real nos artefatos culturas
via linguagem da técnica ou o fazer sobre a substância do universo em coisas;
outrossim, não obstante, é fato pensável desde a tabela Periódica dos elementos
de Mendeleiev e, portanto, um tempo possível e que será posto, pois já vem no
vir-a-ser do dia-a-dia.
Idéias não existem, nem tampouco podem estar na realidade,
mas tão somente na realização, que é o meio ou via em que a idéia entra no
mundo pela mão do homem manipulando a linguagem técnica mental e manual : a
realização é algo mente-mão : a mente elabora a linguagem e a mão passa essa
linguagem pelas coisas transmutadas, destarte, em objetos, artefatos, ou realizações mente-mão do ser humano, o
realizador de novos mundos, nova América, continente incontido no espírito
humano.
( O ser humano porfia contra o bicho
Com alfange
adaga
cimitarra
órix-cimitarra
alcaparra ...
O arco e o arqueiro certeiro
Incerto
De um certo
Também incerto
Robin Hood
Da floresta
Meramente mais uma jusrisdição do rei
De um João sem Terra
Ou outro Ricardo Coração de Leão
Sem cor no coração
Agora
Fora da hora
Da vida
Que é sempre bebida
Em versos de lira
Baladas
De Byron
Porém o bicho é e está em natureza
acima e embaixo
Do seu corpo baixista
Autista
Maneirista
Isca para germes
Vermes repelentes
Gusanos
Para os quais cria o remédio
Outro alfange
Para outro alcance
O qual tem e traz a
dose de morte e vida
Ou não funciona mais
Se o corpo foi tomado
Pelas legiões da natureza
Em batalha romana
Grega ou bárbara
Que leva ao Tártaro
Terra final
- terra afinal!
À vista ou à prazo
Desde a quilha
Uma milha náutica
Dos miasmas
( minh’asma
- minh’alma!,
inexistente
miasma
- existente )
O ser humano luta
Se defende
Com a linguagem
No entanto a natureza
Usa a realidade
E tudo cria
E destrói
Inexoravelemente
Implacável
Inapelavelmente
A natureza nua
- Deusa! :
Ísis sem véu
ó céus!
de déu-em-déu
ao léu
com asas que remam
- o remo
a rêmige
a remar
que mar
é mar
de mar a mar
até amar
a areia
que lambe
a alvura
do jasmim
do bogari
na barra da alva
na flor de laranjeira
que resta no areal
branco
de casa branca
de xadrez
em preto e branco
do anum ao atum
ou da garça translúcida
à boca da mamba negra
aberta )
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