Cassiopeia, minha constelação de amor,
jamais quis, precisei, desejei, amei
qualquer mulher que fosse
- com paixão semelhante
ao sentimento de amor
completo e complexo
que tenho por você
batendo sob o plexo
com nexo ou sem nexo,
com sexo ou sem sexo.
( Claro que quero
bastante sexo,
que a paixão não se aplaca
senão com muito ato de amor!).
Quero beijar você até a alva
perder a cor
na barra da noite
- e a barra da noite
empalidecer
no dilúculo
gotejante de orvalho.
( Valho o orvalho...
Valha-me Deus!,
quanto alho olho!:
molhos de alhos,
vale no vale
ou na vala
que valha a navalha?!).
Com o rocio no cio,
rumorejando o arroio
quero receber e doar
todo o caudal da saliva
passada durante o ósculo
nos oaristos
que encetaremos
mas não terminaremos
nem quando o tempo for nunca,
pois nosso beijo
não achará abrigo no fim
ideado pelo filósofo Aristóteles
ou pelo pintor Klimt,
o qual pintou "O Beijo"
obra de "Art Nouveau"(Art Nouveau!)
( Vide o movimento cognominado(?)
de Secessão austríaca ou vienense).
Quem, Cassiopeia, achou um filão
- de amor, de paixão,
- que é nosso caso casado,
ou mesmo apenas
uma pérola de amor
dentro de uma ostra
que nos une
com coração de um
a bater pelo coração do outro
( e de mais ninguém!)
- quem assim achou
tanto amor
dum peito a outro peito
em dum-dum de tambor,
aparta-se da velha solidão,
do velho tempo
perde os andrajos do corpo
que ficou em lixo de células mortas
e fecha-se dentro da ostra
que nos abriga do mundo
iluminado pelo Canis Major.
- E nós achamos o rico filão!,
e a pérola a nos espiar
e escolher de dentro da ostra!,
hermética ao ostracismo
dos ostrogodos do mundo
dos homens bárbaros, godos,
góticos nos pórticos das catedrais medievais
e lá vai séculos,
marcados a passos de pó
no Pórtico e São Benedetto,
comuna na região da Emília-Romanha...
Ah! Se chamasses Simonis del Bardi...
não terias teu nome
como nume na Cassiopeia,
mulher querida no meu coração!
Ah! A pérola para um colar...,
achamo-la nós!,
ó amada minha,
minh'alma partilhada,
ainda sofrendo apartada!,
flor nos meus olhos,
minha vida,luz e coração!
E por causa desta descoberta,
da pérola dentro da ostra,
do veio de amor sem limites,
aspiramos separar-nos do mundo hipócrita
e ter vida nova ( Vita Nuova, Dante Alighheri!)
tal qual fazia o cristão
que amava tanto sua causa
que preferia o martírio
a continuar sem sua fé,
que era sua esperança única
e seu único amor e bem
no mundo sob a luz do Canis Minor
que minora a hora no céu.
( Seria tudo um preanúncio do amor
e da Divina Comédia
que é a vida humana,
senhora minha?!
Outrossim os comunistas
pereceram sob tortura
por uma causa
que não valia a pena
e muito menos a vida
tudo porque o contexto os vestiam
- de vestais!
e neles investiam
um tempo para o mártir
e outro para os que faziam a colheita
dos frutos regados a sangue!,
porque assim é o mundo,
minha doce e pura senhora,
que ainda não é minha,
mas de outro mais feliz
ou infeliz sem seu amor
- que é meu apenas!,
desde o seu berço
no desenhos dos seus olhos
buscando luz nas sombras
que desenhasse minha face
e desdenhasse as demais).
Eu, bela Cassiopeia,
não sei mais viver
sem tocá-la amorosamente todo dia,
sem abraçá-la carinhosamente,
olhar em seus olhos,
amar você perenemente
com imenso respeito...
ouvir sua voz
que adoro...
- até que chegue o dia da sega!
e a lua carregue a foice
do verdugo que ronda a vida.
Até aquele dia fatídico!
Você, Cassiopeia,
é uma constelação suspensa no céu
sobre minha cabeça nua sem chapéu.
- Eu, um demônio caído na terra
( demônio em grego significa sábio,
diz Erasmo de Rotterdan
em "Elogio da Loucura"
a única obra de psiquiatria real
antes de Michel Foucault escrever com maestria
sua "Historie de la Folie",
na qual aborda o poder psiquiátrico
ou a psiquiatria como poder de polícia
e médicos como "policiais de branco"
Obras dessa envergadura intelectual
são ignoradas pelos louco no poder
secular e regular).
Se algum dia
a Cassiopeia apagar-se no céu
restarei num andarilho
que se arrasta à sombra vinculado
tiritando de frio
- até que a morte por hipotermia
venha e transfigure o nosso cálido amor
- de lava de vulcão apaixonado
em branco glaciar.
( Vamos viver nosso amor, Cassiopeia,
enquanto temos tempo
e não uma Era Glacial
a nos separar eternamente
sob camadas de gelo?
Vamos arrostar o mundo
mesmo sabendo
que seremos mártires do mundo?!...,
pois mesmo se o não fizermos,
não nos amarmos
até as vias de fato
aonde querem chegar os nossos corpos quentes,
ficaremos a mitigar a frustração
olhando para dois olhos
com um amor maior e mais belo que o universo,
mas poderá não ser realizado cabalmente,
como pode e deve ser,
custe o que custar,
doa a quem doer,
pois não haveremos de ser pusilânimes,
cruéis conosco mesmo,
proibindo-nos de viver este amor imenso e puro,
que os outros proibiram
graças a circunstâncias
que não nos favoreceram,
mas favoreceram a eles
que exigem que nos amputemos desta paixão...
Todavia, mesmo se fizermos o que eles querem
impor-nos cruelmente
desrespeitando nossos desejos mais ardentes,
ainda assim
e por isso mesmo
- assistirão com júbilo
nossa morte precoce
que começará pelo sacrifício deste amor puro
- um amor santo
que não conhece a maldade
e tem o poder de realizar maximamente
até o ponto de deixar encontrar rasto de nós
à beira do caminhante
sobre terra ou água
nos pés nus de carmelita descalço
- que será nosso filho
ou nossa filha
que será nosso amor em chama ardente,
que nem as ardentias do mar apagará
- dos pés do caminhante,
que escreverá nas areias da ampulheta
com um pé na alpercata
e outro nu no solo
a nossa história de amor
mais bela que Romeu e Julieta,
ou qualquer outra
que foi ou que há-de vir
empós as nossas auroras juntas,
pois nossa paixão,
na acepção grega do termo,
não será meramente uma história poética
ou científica( Deus nos livre!),
ou filosófica, religiosa, mística...( Deus nos tenha!),
mas sim uma realidade experienciada a dois,
vivida até os ossos
que o levam na morte!
- Nossa paixão,
uma experiência a três com o filho...
a quatro mãos com a neta, tataraneto...
o qual será o caminhante
ainda que sem rumo!,
mas na senda,
porquanto sempre será torto o mundo
que é dos homens e dos direitos
que se arrogam os feudais senhores
donos das almas e espíritos venais
- mas não da barra da alva...,
Cassiopeia minha,
que nessa eles não podem tocar
assim como não hão-de tocar
na sua flor de laranjeira
que lateja já por mim
desde a primeira vez
que seus olhos
deram luz à minha face
deitada no pensamento filosófico,
que era minh'alma errabunda
antes de você ma tomar
com suas legiões de amor
a lançar flechas incendiárias fatais...
Nosso amor sobreviverá
ao que vier :
ele já está escrito
n'alma, no peito, nos olhos,
no corpo inteiro,
- em todo o cosmos!!!
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