Se Deus não há,
E não há , de fato, Deus algum,
Nem algures nem nenhures,
Nem em Utopia nem em Sophia,
Então tudo é mentira,
Atos mortos,
Nietzsche mortificado.
Deus não existe
Ou se escondeu em trevas vetustas
Trapos de trevas puídas, rotas,
Trevos de hipocrisia
Cuja função ou sortilégio é possibilitar
toda sorte de convivência.
Um ensaio da hipocrisia,
Daria um bom substitutivo
Do ensaio-sátira de Erasmo de
Rotterdam
Sobre a loucura e suas diatribes.
A hipocrisia, não obstante o
menoscabo
Com que é tratada pelos
tratadistas,
é o artefato mais sublime(sublime!)
Da comunidade humana,
Faz mais que a poesia,
Pois permite que qualquer
interação,
Mesmo com o ser mais execrável,
Pode se passar em moldes
razoáveis,
Não atingindo a camada de ozônio,
Por si só já tão mexida,
Nem, neném, permitindo outra guerra de Tróia
Com cavalinho de presente
e Odisseu montado em seu discurso dúbio
- e hipócrita!
A hipocrisia opera o milagre do
amor:
Sob seu jugo, que torna dócil o
rei dos bárbaros,
Ela faz crê a ao incauto e ao
erudito
Que ele ama o seu inimigo
E , pior, que ama, outrossim, os
seus amigos.
Os amigos são, sabidamente,
os inimigos mais deletérios do homem :
Sabe-o o sábio anacoreta, incréu.
Por fim, a hipocrisia permite
Que a crença estúpida em Deus perdure
indefinidamente.
Quanto mais se crê em Deus,
Mais se entrega ao outro,
que é o alter ego, o inimigo, o filisteu,
ou ao amigo de tocaia,
que tem sede de sua vida,
cobiça os seus tesouros,
seus carunchos e traças,
sua mula, sua esposa, sua concubina...
portanto, quanto mais amigos,
filos de táxon,
demonstra ter um homem,
mais frágil se mostra o homem,
pois mais abalada fica a fé
que poderia ter em si mesmo,
porquanto são dissuadidos
de serem auto-confiantes,
auto-suficientes
Ao parar para ouvir o conselho do próximo,
O qual o leva a cair no abismo
De ponta cabeça.
O que o próximo proporciona
É
dar vazão e razão
Para perpetuar a guerra,
Pois do contrário
Ele, o bom amigo,
Próximo que está,
Aprestar-lhe-á uma emboscada
Tal qual o fizeram a Jesus
Graças à suas graças
E sua ingenuidade homérica, fatal.
Por isso, o próximo é o mais
difícil
De ser amado;
Aliás, não se deve amar ao
próximo,
Pois este é o filho, a esposa, o
amigo,
Enfim, todos aqueles
que se acham no direito de trair
sua confiança
e o fazem sempre, sob testemunha anil,
porquanto podem prescindir das
trevas
que cobrem o ladrão.
Jesus era natural do campo,
Lírio puro no escarlate
desenhado.
Ali seus geoglifos profetizavam,
Podiam ser lidos nos lírios
amarelos também,
Que carregavam o palor da morte
sob o luar.
Jesus acreditava piamente em
Deus,
Que lhe fez ouvidos moucos.
Não, não há sob céu
Ou sobre terras
Deus nenhum,
Mas um pacto hipócrita
Para crer num ser
Que é o homem invisível.
Entrementes, os lírios em lírica
Espaçam tal paz
Na aragem tépida
E fazem um discurso em geoglifos
Tão belo! em ontologia na areia,
onto-teologia sutil nos silicatos,
em petroglifos que assombraria Duns Escoto,
o qual não era êmulo do sol em clareza
com suas finuras
teológico-filosóficas.
Duns era dum mundo medieval,
Dum outro mundo, pois.
Se há tal universo não nomeado,
Inverso no anverso,
fora da língua do homem,
sem onomástica básica,
Não o conheço, nem creio que
haja.
Haja vista, sendo o anacoreta
incréu
Sou descrente de tudo
E livre até mesmo da descrença,
A qual me parece, quando
fanática, obsessiva,
- Uma crendice discreta,
Uma bela hipocrisia com
máscara-de-ferro
capa de Drácula,
grilhões nas mãos e pés
Para capacho aquietar o facho,
Sentar no rabo
E ouvir o diabo
Ao dente no quiabo
Em chulo no diacho.
No calão me calo.
Voltando de digressão a Deus,
Sua inexistência posta em juízo,
Em assertiva definida
definitivamente,
Rasgaria toda tensão
Que cabia, de cabo a rabo, nas
palavras?
Implodiria as frases
não-bíblicas?
Eclodiria nas orações com
corações ao alto?,
Turbaria a mente humana
Que foi toda construída
Com sua presença
No ser fictício
Que a rapsódia decantou?
De mais a mais, se Deus não
existe,
E não existe de fato,
Mas somente de Direito,
Então há verdade em Nietzsche,
Homem que se queria “ Para Além
do Bem e do Mal”
Em sua presunção monstruosa.
-Então, toda a verdade está lá
Instalada, instaurada, estalada
Em seus livros crus,
A dissecar aquele que se apresenta
: “Ecce Homo”
Com pompa de truão
E não se ausenta
Naquele viandante que tem a
sombra por companhia
- de Jesus e de Anchieta!...
A verdade deveria estar
Em super estrela, em estela,
“Stela”, “Stela Maris”
Nas obras de Nietzsche,
Que não são “Opus Dei”,
Porém não está lá,
Plantada em árvore do paraíso
Cujos frutos é o conhecimento.
Seus livros não contém a verdade,
Mas prosa e verso de verdade
Com rasgos de imaginação
Que cabe ao trovador
Em exercício de um gai saber,
Que prova a ciência
Na Gaia Ciência,
Com outra língua
e outra crença,
que se quer substitutiva da fé em
Deus,
a qual, sem embargo, era melhor
Para a canalha e para mim,
Para ti e para ele
-
para ele! que vivia em petição de miséria
Envolto num corpo doentio,
Alma senil, vitimado pela pobreza econômica e social,
Miséria política...um pobre
coitado,
- um réprobo, enfim,
Que não se conformaria com a
verdade,
E, por isso, arrolaria suas
mentiras adornadas
E enroladas em bons ditirambos,
O que fez até o apagão
Anterior à morte,
Cujo piscar de luzes
Já se prenuncia em sua obra
derradeira
Que, ironicamente, apresenta o
homem: “Ecce homo”,
Como se o homem fosse ele,
Nietzsche,
Um meio-homem em meia-vida de
remédio
Pronto para dormir meia-vida
Ou a vida inteira
com morte em vida
e mote de morte em obras
de triste figura, Dom Quixote de
La Mancha,
sem mancha alguma,
que não seja do Canal da Mancha.
Bom Manchego,
sem Manchúria.
Esse filósofo, Nietzsche,
não foi sábio,
Mas genial como Belial,
Digno de um inquisidor
Que o fizesse sentir toda a dor
da tortura
Com a qual sonhou
Vida fora ( ou morte afora)
Em sua meia-vida de fármaco,
Sua agonia lenta e longa,
Porquanto, bem ou mal,
Nietzsche mal logrou ser um homem:
Foi antes um remédio,
Um ser com remendos de remédios
Para seus males, sua dispepsia,
E os males de outros
desafortunados
No caminho inverso
Da felicidade de Aristóteles,
Sábio, sadio, homem de boa cepa,
Magnífico senhor,
Que não pode ser magnânimo
Porque seus bens
Não o autorizavam,
Nem era perdulário, pródigo,
Ainda que em louvores.
Homem íntegro, o estagirita.
Coube a Nietzsche, entretanto,
Dar-se conta da inexistência de
Deus.
Agora, hoje, cabe ao monge
Dar-se conta da inexistência de
Deus.
Não ao monge representativo,
Monge por procuração,
O ator atroz, juiz e algoz de si mesmo,
O qual se prendeu em cela de abadia,
Em um claustro
E todo dia vive ignorante
de onde sopra o austro
Com seu oboé ,
sua trombeta, seu trompete...
com outros sopros
Que inspiram e depois expiram,
No movimento musical do
instrumento
Que com foles
Move-se em dança
De sístole e diástole
Soprando o anjo soprano em
mensagem,
Pois o anjo é a mensagem,
Parodiando Marshall MacLuhan,
Que assevera que “O meio é a
mensagem”,
Dito que compõe o anjo.
( Não existe um anjo,
Mas o anjo sim
- é ser de dentro do cérebro,
Surfista na mente
Sã ou louca de pedra
Como uma mulher).
Não conhecemos nada,
O conhecimento é apenas um rito
social.
Do que sabemos com a língua nos
dentes
É bem pouco mais
( e muitas vezes menos!)
Que o animais silvestre os
domésticos.
Nosso saber se estraga mais ainda
Porque se vincula ao conhecimento
E este é rito momentâneo
Na gangorra da moda dos conceitos
Que sábios e artistas desenvolvem
incessantemente.
No que tange à tecnologia mental
Expressa em equações algébricas
intrincadas e belas
Como um longo poema de Camões :
Os Lusíadas
Ou a Comédia de Dante Alighieri
Essa tem o Status de mito
E nunca perde o vinco :
É eterno enquanto durar a eternidade
Para o homem vivo.
Ao que respeita ao homem livre,
Que sempre é um pobre incréu
Porque conhece apenas a solidão
(Uma solidão de dar pena - em
pena de pavão!)
Que o cerca e prende,
Condenado que é
Também à solitude com voz de ave canora,
qual quero-quero procurando
desesperadamente o bando,
- o quero-quero que quero
que ora, ore por mim
junto ao vegetal na campina do
galo,
vegetal que ora ora “ora-pro-nóbis”,
Filhos de Deus,
De um Deus que não existe,
Não é ser algum,
mera geometria de homem,
na partitura para um canto de um
rapsodo,
- uma rapsódia desesperada,
enfim.
Ermitão que sou
não acredito nos homens,
Nem em mim, Que sou homem
E, consequentemente, traio-me na
freqüência medrosa,
Pois foram eles e eu
Que mentiram para mim
Em conjunto não-matemático, nanomusical,
Sobre a realidade de Deus,
Ou melhor : a irrealidade (
surrealismo está na Bíblia,
Não em Chagall, Salvador Dali, Miró
E mestres que tais.
De mais a mais, eles não só me
enganaram,
Mas também esconderam a verdade de si mesmos
Por medo da morte
E do abandono a que estamos sujeitos,
Desamparados e desprezados por todos
No caminho que leva à senectude.
Quanto à flor-de-lis
Sei que não mente,
Pois é filósofa cínica
Que não pensa na vida,
Apenas age porque não tem mente
Que lhe suscite símbolos e signos
,
Os quais se não são os
pensamentos,
São-lhe mais de dois terços do
pensar.
A planta vive a vida, que é sua
deusa:
O vegetal é um empório de vida
Armazenada para o animal
Em forma de nutrientes.
Todavia, sei que o vegetal
É contra mim,
Não confia em nenhum animal,
Por isso guarda veneno nas
folhas.
Ora! Como posso ter confiança nesse ser
Que dá a vida
mas pode tirá-la num átimo
Se nos esquecemos
E bebermos ou comermos demais,
A ponto de tudo cair
Na conta do veneno
E pelo veneno pagar com a vida
Como sói acontecer?
No vegetal está plantada a vida e a morte,
O remédio que nutre ou cura
Ou o veneno que destrói o corpo e
mata-o.
Assim como a cobra arrasta a
peçonha,
Com a qual caça, faz presas
cálidas.
A víbora que carrega o símbolo
Visto apenas pela mente humana
Que também se nutre
De símbolos e signos,
Leva em sue corpo
Toda a farmacopéia
( a serpente é o “Phamacon”)
E toda a dieta
( na dieta estão presentes
Todos os produtos químicos do “Phamacon”.
Quem se alimenta
Toma remédio
Ou inocula venenos,
Os quais vêm da vegetação,
Tão palatável quanto a cobra peçonhenta,
Alimento apreciado na China,
Onde sendo muitos
os chineses
E, concomitantemente, pode grassar uma fome
Que passe a fio de espada
Bilhões de entes humanos,
Porquanto sei
Que o cavalo amarelo do apocalipse
E seu cavaleiro ( amarelo?)
Existe de fato nos pesadelos
E nas pragas naturais,
Das quais nunca estamos livres.
Na China há o rio Amarelo,
Que não me deixa olvidar o corcel
da fome.
Sou um monge sem Deus,
Um prisioneiro de mim,
Um condenado por mim
Ao degredo longe do século
E duas sentenças de morte
Pesam sobre minh’alma;
Entretanto, para mim, o monge
- É um monstro de alienação,
Que Hegel e Marx sintetizaram,
Goya os apóia em suas gravuras
Em estado de loucura sã,
Daquela a que se refere
São Paulo Apóstolo dos Gentios.
O monge que sou, seio-o,
É apenas um castigo
sado-masoquista
A que imponho
Ou a que me impôs a pressão do
grupo
Para tomar o lugar de Deus
Que, por não existir,
Cria a necessidade
político-social-ritual
de alguns homens
Que paguem caro por isso
Com o sacrifício da própria
existência,
Morrendo em vida
Tal e qual o condenado pela
Justiça dos homens,
A pobre cega, inválida.
Esta também a justiça de Deus, o
inexistente,
Pois é o homem quem a levanta
Por não haver deus algum
Que o possa fazer,
Mesmo porque, se existisse,
Deus não teria vida.
Teria o quê?!...:
A teia da teologia que teima em
teia,
Mas é tão-somente teia
- sem aranha!
O deus laico
É o Direito, os santos direitos
humanos,
Que não passam de mendacidade
E, portanto, de um ardil do
demônio;
Por outro lado,
O deus das igrejas
Passa por ser
O Deus de Abraão, Isaac e Jacó;
No entanto, em realidade,
Não é senão o santo ofício da
inquisição em ação,
Ou seja, o casal Súcubo e Íncubo,
Alma de inquisidor.
Contudo, a inquisição
Não está escrita
Na história,
Mas vige hoje,
Neste instante,
Pois o demônio é perseverante
E sempre operante,
Santificado com o nome de Deus.
O que me dá esperança vã
É que Deus nunca foi apresentado ,
Senão em nome
Pelos homens com poder
institucional;
Entrementes, chamam em nome de
Deus,
Sempre em vão,
Porém o que se apresenta é o
diabo
Que, em si, é o mal Sem o bem
Para compensar.
Deus jamais se apresentou
Sob a égide das instituições.
Mas os lírios
Espargem boatos na brisa
E os marimbondos seguem
Algo ou alguém
com quem dialogam
em silêncio quase audível...
Quem será este ser que cochicha?
- Sei que não é o diabo,
Pois esse vive em meio aos
homens,
Não afagam os marimbondos...,
Porque eles sabem
Onde Deus está escrito em
geoglifos(geoglifos).
( Escritos Líricos em geoglifos à flor dos lírios com geometria algébrica
imbricada em arabesco de autoria do
anacoreta incréu).
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