Com um olho no gato
Pisco
Outro no peixe
Pesco
O gato é presto
O peixe písceo
E a piscina
sua sina
Sua sauna
- sua ao sol
Lá si dó mi fá ré
Com atma nas guelras
Se a voz é sânscrito
santo
- e alma, se do latim
Voa-se à alma-de-gato
Que cato
Em cacos e cactos
Pelos matos.
( Mata Atlântica, mata!
Bioma que abrangia...
- terra e terras onde a mata
Hoje está morta
Abaixo do capim-santo,
Beato o beta Centauri...).
O gato gatuno
É da estirpe
Dos ladrões e assassinos
Alguns dos quais
Tomam assento na elite oligárquica
Transtornados em manhosos políticos
Que são
- somos todos!
( que homem é bicho político
Sacado à fábula
kafkiana)
Sorrateiros caçadores,
Jaguares com peso
Mensurado em onça
( onça troy),
Maquiavélicos Mefistófeles
Sem fé no feto
Que planta o chão
Ao rés-do-então
Escabelo presente
No ente
Em vida
Que abunda
E afunda
No subsolo
Regado pelo regato
Que é um regalo
Com seu canto de aboio
Percutido em chuá d’água
A soar em litania
Para parusia
( Ladainha
Para a rainha,
Sua majestade, - a
tainha
Peixe bom para frigir,
consoante o dizer do grego aristotélico,
angélico no Aquinate,
mui douto ( ou doudo?)
vivente em terras de tempo
na Alta ou Baixa Idade Média
Que media o que medeia a Medeia
- do poeta trágico Eurípedes
De pé no podes dos artrópodes,
Filo de animais com exoesqueleto...).
Com um olho no gato
Engato uma marcha
Que vê o mundo
Em cosmosvisão
Que joga lume
Sobre os bandidos em bandos
Que somos em soma
Sem lograr levar o fato
À auto-percepção política
Da espinha ao espinho
Que fere a carne
Na carnificina de ofício
E ofídio na oficina
e no front ocidental,
oriental, parietal...:
os ossos em par
na calvária craniana...
Com o outro olho
nadando no peixe,
Ao lançar da rede
Pesco a doutrina de Jesus
A qual nos nutre
Com o pescado de vida
Eterna no sopro
Que expira no soprano
E no sopro do oboísta
Ao oboé
Que é um mel
De melodia.
( Há homens livres das peias
Cuja política
Se sublima na economia salvífica,
Que nos salva da salva dos canhões
E da salvação que vem de fora
Do homem individual,
Única substância aristotélica existente,
Real no caos normal).
Aonde a onda desenha o peixe
Às orlas em areias brancas
Das dádivas das ervas
daninhas
Não se desdenha
O ladrão, o pecador, o criminoso,
Nosso irmão,
Nosso filho,
Vosso felá,
Pequenino e inocente,
Com culpa menor
Que a minha e a tua
Que o não fomos visitar
Quando esteve preso
- E então era Jesus
Sendo surrado
E coberto com o surrão
Da penitência , da lepra,
Fumando as cinzas das
horas
Numa estrela da manhã
A burilar a poesia de Manoel Bandeira,
poeta da ordem mansa
Da ode dos frades menores
Mais despojados e caridosos...
A qual não escarnece do condenado
Pelos políticos truculentos ,
Facínoras com poder
de conceber leis
injustas
Que ludibriam o direito
E desonra a todos;
Eles, que são os
genuínos foras-da-lei,
Ficam imunes a penas
Embora meliantes
Que perpetram e
perpetuam
os maiores e mais
graves ilícitos,
mas satisfazem os olhos cegos dos tolos
com seus bodes expiatórios,
os larápios de pequena monta,
que se tornam indefesos,
tais e quais os pobres animais maltratados,
Cristos para o matadouro metafórico
Com ou sem uso de pena capital,
Enquanto acumulam o capital
Maximizando os lucros
E minimizando os Marx incautos e incultos
Que se quixoteiam em queixas,
Queixos e queixadas,
Revertidos em seres
quixotescos
Fora do eixo perimetral norte,
Com sorte se tiver consorte
Que os console com sortilégios.
Essa corja no poder
Locupletam-se roubando,
Furtando, espoliando
E lançando sortes
ao butim do miserável,
do tolo feito Cristo
de bondade e mansuetude.
E esses crápulas ainda se rejubilam,
jactantes, - ímpios
homens
que perfazem a maioria absoluta
contra a qual é
impossível lutar,
bastando desvencilhar-se-lhes
e ver suas armadilhas simplórias
colocadas para pássaros estúpidos.
Sei do Evangelho que li
Que todo aquele
que teve seu nome
lançado ao rol dos
condenados
- Era Jesus
A caminho da segunda vida
Nesta terra
De ternura e agrura.
(Anteprojeto para o “Opúsculo do Exegeta(exegeta!) em Canção de Gesta
Useiro e Vezeiro do Nonsense A Fim de Embevecer Poesias de Manuel Bandeira
fumado nas “Cinzas das Horas”).
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