Aporia, uma aporia constata Aristóteles, o filósofo
grego, o aristocrata por excelência, quando
fala que a ciência provêm dos universais, ou da percepção e conceituação do que
é universal na substância primeira, que é o indivíduo, o homem individual, de
onde tudo emana e que dá nome e número ( os “nous”) ou qualidade e quantidade
em contraparte á substância, nas categorias , as quais situam-se abaixo da substância, que é o sujeito do
universo, pois sem ela ( a substância, o sujeito, o subjetivo) o universo não
se diz, pois a dicção, o predicado (pré-dicado) origina-se no sujeito, que e a
substância primeira, ou o indivíduo , ou seja, o ser humano, o homem enquanto
indivíduo. Esse pensar aristotélico pára na Bíblia, no Livro do Gênesis, quando
se diz que o homem nomeia os animais e
plantas e tudo o que há na terra. Inclusive as Grandes Dionísias.
Todavia, o universal não se exprime, senão pela
singularidade, na substância primeira, que é o indivíduo humano, a concretude;
porém há a substância nomeada de substância segunda, que é a espécie, que é o homem, ou seja, aquilo que o ser humano individual tem em comum com os demais
seres humanos, que caracteriza o homem, diferencia-o do boi, a ave, por
exemplo.
Ora, quando Walt Disney veio ao Brasil em 1942 e criou a
personagem José Carioca, isso, ao ver os desenhos, me animou a crer que ali
estava Aristóteles, sem rebuço. Senão vejamos: a personagem fictícia José
Carioca evoca com perfeição psicológica,
corporal, cultural, enfim, o apresenta o tipo do brasileiro universal, ou seja,
a espécie de gentílico, se podemos arrumar uma licença poética para fazer o
exemplo clarificar o pensamento do estagirita. Claro que, enquanto espécie, o
homem brasileiro não difere em nada do
norte-americano, mas culturalmente sim, há uma diferença de comportamento
abissal, que toca o corpo e o pandeiro vai bailando junto ao bumbum bate
bumbum ziriguidum , em José Carioca e
até faz dançar o caráter do “urso”, para lembrar Helvetius que assinalara : “A
educação faz dançar os ursos”. Digo que no circo sim. No picadeiro com as
devidas ou indevidas ameaças.
Nota-se que José Carioca é um tipo invasivo, intrometido,
afetado, falso, falsário mesmo, mentiroso, que vive e sobrevive de enganar os outros ( profissão de fé do malandro
brasileiro de cultura folclórica), bom de conversa, fácil de fazer amizade , o que mostra futilidade, leviandade,
interesse em passar uma imagem positiva, de pessoa carinhosa, gentil, tudo com
um objetivo de tirar o máximo proveito da situação enquanto o incauto não
perceber. Vigarista, estelionatário. É um típico Macunaíma : indivíduo de mau-caráter,
sem virtude, sem honra ou vergonha, um pária, enfim. O rebotalho. Lamentavelmente
é o brasileiro típico, culturalmente formado, mormente daqueles que
dirigem o país : os políticos, que são
sempre d esse naipe, pois os políticos,
os detentores do poder são aqueles com os quais o povo tem empatia e, portanto,
ganham, no voto, democraticamente, direito de representar esse povo, pois são a
cara do povo. O homem brasileiro não é pior nem melhor que o norte-americano, o
europeu, o árabe, mas sua cultura, que consideraremos aqui como algo acidental
ao homem ( coloquemos a cultura como acidente para evitar dissensões que não
interessa ao escopo deste escrito, porquanto
a cultura, que
não e a mesma em todos os povos, é que faz essa diferença não essencial,
mas acidental.
De mais a mais, estudar a cultura de cada povo não retrataria
a cultura absorvida, lida e interpretada por cada indivíduo humano e, portanto
, não poderíamos ter ciência, pois se estudarmos cada indivíduo teríamos, segundo Aristóteles,
tantas ciências quantos indivíduos existem. Por isso, segundo o filósofo, apreendemos
o múltipo, que representa o universal em cada indivíduo e desse universal,
encontradiço no indivíduo, construímos os princípios que norteiam a ciência. Esse universal é a espécie, que
conceitua o homem enquanto um conjunto de seres semelhantes, com as semelhantes
características físicas e psíquicas essenciais ( substanciais, de sujeito ou subjetivas, oriundas do mesmo substrato; a
saber , a substância primeira ).
A ciência, com o
universal, que é uma percepção e conceituação intelectual, colhe a concretude
com o aparato da abstração, ou seja, deixa de ser ciência de fato para sê-lo de
direito, pois afasta a realidade concreta e estuda a abstrata, só chegando a
concreção quando no embate profissional, se muito. A ciência, de fato, é uma
demonstração de princípios científicos,
mas não ciência, pois prescinde dos fatos singulares , graças ao intelecto nobilíssimo de Aristóteles que a colocou
nestes trilhos a milênios, pois não havia outro caminho possível e tão econômico quanto o método que se utiliza
do universal, que é mera abstração, e tem que abandonar a concretude em nome da
necessidade de economia, sem a qual não poderia haver ciência funcional. A
ciência é como a estatística vive de
amostras da população, pois é impraticável estudar todos os indivíduos da
população e, destarte, sim, poder fazer ciência e não mera amostra.Entrementes,
sejamos dissidentes ou dóceis meninos, é esse universal que faz a ciência,
catado na singularidade do indivíduo, pois sem
indivíduo não há homem e nem, evidentemente, ciência, que é produto do
homem em correspondência com sua cultura, a qual responde.
O homem(espécie) brasileiro é, destarte, desenhado,
conceituado, lido da alta arte do poeta, do artista Disney ( e a política dos
Estados Unidos ), lido enquanto espécie, ou seja, substância (substância!) segunda, que é a
espécie e, concomitantemente, mostra a substância primeira, de onde se tira a
segunda, que não existe sem a primeira, sendo a substância primeira ou o
sujeito ou o indivíduo humano, o ser humano individual, que faz nadar o
universo em suas águas internas e externas, via mares, coaduna-se perfeitamente
com o pensamento aristotélico sobre as categorias que é constituída pela
metafísica e posta ( em tese) pela tabuadas categorias do filósofo do Liceu.
De fato, não temos ciência, porquanto essa ciência fundada
no universal não passa de uma amostra estatística da ciência, pois a ciência
completa, verdadeira está no estudo do cientista e da maior quantidade ( e com toda a qualidade) de
indivíduos que o cientista solitário ou em conjunto(ou equipe) que pode existir;
no caso da ciência por amostra estatística que o cientista político estuda, não
deixa de ser ciência, mas é incompleta e pode ser objeto de manipulação por
parte dos políticos, pois é uma ciência voltada para a política, no sentido que
cuida do universal para estudar por abstração a complexa teia e Ca
déia em trama viva na realidade natural ou social, econômica, consoante
for o objeto da ciência.
A ciência de fato, real é do indivíduo cientista em interação
livre entre o indivíduo objeto de estudo ou a substância estudada e o sábio
que o(a) estuda movido ela paixão e não por interesses
políticos, econômicos, etc. A ciência
fundada exclusivamente nos princípios que levam à uma mostra do universal é política;
logo não é cabalmente legítima, mas maculada; a ciência pura é individual, não
encarna conotação ou denotação política. É o estudo o eremita :
Nietzsche escrevendo, Shopenhauer meditando o budismo e o hinduísmo,
Kant elucubrando na solidão e solitude ,
no silêncio de suas teses uma
doutrina bem sopesada e, claro,
Aristóteles elaborando todo co corpo da filosofia que, praticamente, foi criado
por ele com pano de fundo em seus mestres e nos
mestres de sues mestres : os pré-socráticos e os que precederam ou forma
preceptores do pré-socráticos.
Toda a filosofia e
ciência contemporânea tem esteio nas obras de Aristóteles. Não obstante, o
homem comum não pode saber disso porque não tem leitura suficiente para
entender o filósofo; sabe-o, tampouco, sabe o cientista e o professor de filosofia,
pois estes não têm bagagem literária mínima para apreender o que um saio antigo e de vasta, perspicaz
inteligência tem a dizer a todos os tempos,
quando o tempo cai sobre um homem de gênio e erudição e se transforma em
ser.
Ou não seria essa contemporaneidade inaudita de Aristóteles
de Estagira apenas um emaranhado de contextos que se mesclam irremediavelmente
na tradução, um diálogo de tramas dos tempos que se interpolam, que se encontram numa mente moderna e tende a
ler o próprio universo contextual num mundo antigo, num homem de outro tempo e
outras tramas conceptuais?! Não seria ao resultado da intersecção dos tempos?
Das leituras e da imaginação do literato, do esteta que se mete a exegeta,
hermeneuta, comentarista e tradutor do filósofo?
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