quarta-feira, 5 de setembro de 2012

LATIFÚNDIOS - lexicografia léxico glossário etimlogia etimo

Foi alienado a mim um bem imóvel do poeta
de versos e versificação ao vermelho da amora
com queda angelical no rosicler
da manhã que manca
ainda com o sono pesando nos olhos zarolhos:
oníricos abrolhos
( Não!, de dentro dele
- do sono ao hemistíquio do sonho,
de suas entranhas estranhas,
hemisféricas no olhar de pestanas fechadas,
não saiu a caminhar
um poeta Verlaine!
- rumo ao absinto
servido em um Café de Paris
às  margens do Sena 
curso d'água nadando em si
- písceo ser elétrico
barométrico... )

O esteta que lá vivera e cantara
o lá lá lá da nota lá, no  musical,
em lá maior ou menor,
conforme o arpejo sem pejo dos acordes
- pintava quadros ingênuos
duma candura de duma estética
que se refletia nos versos
de poemas versando sobre Nossa Senhora
e sua imaculada candura
e concepção virginal

Latinista emérito
poliglota
conhecedor de filosofia
professor de matemática
- um erudito como sói serem os poetas
que enfrentam o jângal
qual fera selvática
cuja sanha de matar é mais sutil e violenta
que as das bestas microcéfalas
 
( O poeta é um deus silvestre
que sopra avena
cujo som vai boindo sobre as ondas 
qual navio ou nave e ave 
no cosmos que é a selva impenetrável
intrincada no obscuro da umidade
 regada  no regato...
floresta  intransponível
- presa ao cipoal
pela cauda preênsil do primata
dilacerada pela mandíbula e garras do predador
que salta no tigre de tocaia
na onça de atalaia
e que, ao mesmo tempo,
voltando a ser o poeta,
 quando livre da possessão diabólica da fera,
a fim de tolerar a hipocrisia humana, 
baixo luar de sertão tão vão nas grotas,
amealha um vasto conhecimento universal
para que o poeta se afaste 
em latifúndios, léguas e alqueires de versos de virtuose
que  alheia o bardo dos homens
talahados na pedra 
para ser escravos sociais e pessoais
para pder gozar da tolerância  dos senhores do universo
sem verso de anacoreta bizarro
dissidente refugiado no inverso
ou no anverso da prosa
e do prosaico )

Homem morigerado

empertigado
cheio de manias
esgares trejeitos rictos
solteiro convicto
solene no trajar
no contato social
econômico nos vocábulos
contido
afetado
com um quê de efeminado
nos modos de megera irascível...
Enfim, um ermitão de brio
em meio ao burburinho estúpido
da arraia-miúda a se proliferar,
do rebotalho a chafurdar na lama,
prolíferos e supérfluos
mas necessários à base da pirâmide
que sustem os nababos privilegiados
na raiz não-quadrada do nabo

  Aquele homem personalíssimo
não era nenhum poeta Verlaine
a entrar e sair livre
do bar e da poesia
embriagado!
uma das poucas formas de evasão do tédio amarelo
em página
que sopra a alma
para outro flautim
de serafim chinfrim
de brim, bebericando gim  )

Ele vivia na casa

a plantar e sachar
por em gaiolas  aves  canoras
e conviver com uma seriema
entre árvores e arbustos
sonhando com bustos
sem sustos com Súcubos e Íncubos fletidos
- na esteira da flecha de Zeno de Eléia

Havia uma pérgola

onde uma parreira
dormitava em uvas;
um pé  de carambola
outro de pinha
uma palmeira com cocos
na palma da mão esverdeada
segurando um vespeiro pululante de vida
e, por fim, e por mim ( porque não?! )
um pé de canela 
ou uma caneleira 
 que envolvia a todos
com um olhar verde
de violinista que afeta o espírito
pelas ondas que dançam no ouvido

Acabei com a vinha

decepei a caneleira a golpe de machado
mas ela voltou a florescer
e então a deixei em paz pura,
na pureza da paz da pomba,
ao arredor de suas folhas
cuja infusão proporcionava um bom chá
de delicioso aroma e sabor

Depois alienei o imóvel

e veio outro ignorante
destruir o restante do vegetal
que habitava no fundo do poeta ;
o restolho da ceifa
no sono da palha
no verde do lodo
ficou exprimida e espremida
a última alma do poeta
que por ali a tergiversar à vontade

( Quando acabará o lastro vegetativo

que mantém o ser humano vivo
abraçado aos vaga-lumes
que já não erram pelos caminhos do céu noturno
corrigindo trevas
e aos miosótis que pintam o azul
nos olhos que descem ao rés-do-chão?!
- Quando deixar de vir-a-ser
um poeta Verlaine,
à deriva,
sempre á deriva?! )

Nenhum comentário:

Postar um comentário