Eu vim da Hélade
de um lugar de muito verde na terra
e a subir os montes
e muito azul a descer mar
e a subir céu
por uma escada de anil
Meu pai recitava com frequência
um poema que dizia de verdes campos
e a evocação corriqueira desses violinistas verdes
tocando a pedra revestida de formas herbáceas
de um verde intenso no clamor do violino
atestava que ele viera de longe
- originário de outras plagas além-mar!
Depois que cresci e vi ilhas gregas fotografadas
ao sol do mar Tirreno
( fonografadas Cíclades!...)
era como se olhasse
para o que meu pai descrevera no "salmo" doméstico
ou como se tivesse o vislumbre no horizonte
dos elementos naturais que compõe meu próprio corpo
porquanto toda a matéria corporal
a totalidade física e química
composta musicalmente no corpo humano
carrega a terra do lugar de origem
- e terra é também as ervas!...:
as ervas daninhas, arbustos, lianas ...
a alma vegetal a mover vida em animal, inseto...
plantas e planta do pé das aves palmípedes
pisando e marcando delevelmente
seu rasto na água do mar mediterrâneo...
- a fauna e o fauno
que representa a cultura
na tradição e no cântico dos mitos
na teogonia do poeta Hesíodo
ou no canto coral ou ditirambo
hino em uníssono
narrando apaixonadamente
um fato alegre ou sombrio...
( Seria o salmodiar intermitente do meu progenitor
memória genética
ou o que os simplistas denominam "coincidência"?!
Mas com tal incidência, veemência!...)
Assim soprava a voz no latim de Roma imperial : grego!
- ou Grécia! e não Hélade!
Neste modular do canto
com este sotaque se gravou
a melodia que é a fala
antes do gramofone
então em potência
e concomitantemente se grafou o nome
da terra dos helenos
a qual no ditirambo de Ésquilo
a harmonia cantada em coro
não vinha a sucumbir
e veio suscitar a voz para Hélade
graças à presença do corifeu
( Desde as tragédias ou cantos de poeta trágico Ésquilo
o dicionário onomástico para todas as regiões
habitadas por helenos
era Hélade e não Grécia
que veio a viger após o advento do filósofo macedônio
Aristóteles de Estagira
no cenário da tragédia mundial
Contudo, ganhou o canto da voz no latim de Roma
e no latim cristão
Outrossim proliferou sumariamente nos gentílicos
dos respectivos vernáculos
com os etnônimos para grego
oriundo do latim "Graecos"
- um outro macarrão
bem à moda italiana )
Vim da Hélade
não sei se passei pelo monte Parnaso
nem tampouco se pisei a erva daninha
a medrar imaginariamente nas bordas e sopé do monte Olimpo
onde os deuses são a natureza
a ninfa as águas
o ar o Zéfiro
que respira um moinho de vento de cada vez
no sorvo das narinas do moleiro
nominado num pássaro
que sabe a mar
- amar o mar das Cíclades
o mandrião-de-longa-cauda
que em latim de Lineu
tem as notas musicais na melodia
com um resquício de saudade do romano
a debicar assim o motejo no gorjeio em latim :
"Stercorarius longicaudus"
Não tenho o mar Egeu nos olhos
não trago um gole de água do mar jônico
não lembro da visão do Pártenon
de seu capitólio
nem da Acrópole em Atenas
mas talvez essa memórias
estejam escritas em língua de genes
que não é idioma de helenos na Hélade
Eu vim da Hélade
no corpo do meu antepassado
e estou aqui a olhar
as flores em formas de trombetas
matizadas de um roxo violáceo
no timbre de um violoncelo
a tocar a partitura lilás
ou matizadas no amarelo
- um amarelo Modigliani
a pintar sua esposa com suéter amarelo
no divã amarelo
com a expressão facial
de algum ser
cuja opção foi se plasmar
dentro do meu corpo
na plenitude do inexistencialismo céptico
sem vir à lume
para o tempo do homem fora no retrato
( que é a existência
e a consequente perda do ser para o ente fenomênico )
- queda antes do daguerrótipo e no fonógrafo
sem mover a pedra do tempo
que é um objecto de arquitetura e engenharia
do ser humano posto na existência
sob as regras naturais e sociais
que pesam uma cruz em gravidade!
- no orbe e na urbe
( Essa mulher sentado num divã
sobre e sob o amarelo-Modigliani em cantata
na ária do artista personalíssimo
seria um ser em concerto sinfônico para amarelo
ou para a lua em plenilúnio amarelo?! )
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